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domingo, 4 de julho de 2010

CO-PRODUÇÕES E CINEMA BRASILEIRO

Camila Jardim

Acordos bilaterais com certos países e co-produções incentivam e ajudam a divulgar cinema brasileiro


No sétimo dia do Florianópolis Audiovisual Mercosul, a temática do Fórum da sala Aroeira, no centro de cultura e eventos da UFSC foi co-produções regionais e internacionais/internacionalização dos mercados. O argentino Alejandro Arroz, produtor e diretor da Pacs Producciones, Petrus Barreto, consultor jurídico, que foi o mediador do debate, e a renomada cineasta Assunção Hernandes, diretora da Raíz Produções, estiveram à frente da bancada do Fórum. Estudantes, cineastas brasileiros e estrangeiros, além de curiosos, formaram o público que compareceu de maneira participativa.

O Brasil possui, há alguns anos, diversos acordos internacionais para co-produções cinematográfica. Dentre eles, os mais antigos, destacam-se: Argentina, Espanha, Alemanha, Portugal, Canadá e alguns outros países latino-americanos. Curiosamente com o Uruguai, país vizinho, não há registros de acordos de nenhum tipo.

Participamos, como país membro, do Ibermedia, junto com outros 17 países integrantes. O Ibermedia, Fundo Ibero-americano, criado em novembro de 1997, tem por base as decisões adotadas pela Cimeira Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, celebrada em Margarita, Venezuela, relativas à execução de um programa de estímulo à co-produção de filmes para cinema e televisão. Infelizmente, apesar de funcionar há bastante tempo, esse acordo ainda não foi aprovado no congresso nacional, o que proporciona insegurança para os produtores brasileiros.

A burocracia brasileira, no momento de fechar um acordo para uma co-produção internacional, é exigente e complicada, podendo levar meses para a oficialização de todos os papéis necessários. A cineasta Assunção Hernandes acredita que os acordos entre países deveria ser feito através das intituições representantes, onde as produtoras estão legalmente registradas.

- Por exemplo, no Brasil, as produtoras brasileiras são registradas na Ancine e têm todos os seus documentos guardados lá. Só assim elas têm o direito de usar as tarjas oficiais, etc. E no caso dos outros países, seus próprios institutos que os representariam de alguma forma. O que eu acho é que deveria ficar a cargo de cada instituto assumir as responsabilidades da idoneidade ou não das empresas e suas existências, e não ficar exigindo que o parceiro de fora prove com documentos originais, firma reconhecida, cópia autenticada, consularizada, notarizada, trazendo custo, tanto para a produtora de fora, quanto para nós. Seria mais prático e economizaríamos tempo e dinheiro, afirma Assunção. O Brasil ainda é muito cartorial em todas as áreas, mas nessa área fica mais evidente e mais problemático esse problema, uma vez que os nossos parceiros lá de fora não exigem isso. Deveria haver uma reciprocidade, completa a cineasta.

A Galícia, estado da Espanha, possui acordo direto com o Brasil. Realiza um edital no qual são selecionados dois projetos de filmes majoritários brasileiros, e dois projetos de filmes majoritários galegos, e que receberão um benefício e investimento dos dois países. Esse acordo com a Galícia já funciona há uns três anos. “O interessante dos acordos diretos é a busca por histórias semelhantes e um projeto que contemple de alguma forma uma convivência e uma integração. No caso da Galícia, o Brasil tem mais originários galegos que o próprio estado espanhol. Galícia deve ter cinco milhões de pessoas, e o Brasil possui em torno de 12 milhões de descendentes. Costumamos brincar dizendo que aqui é o estado galego de maior população”, afirma a produtora.

Ainda sobre os acordos que relacionam o Brasil com outros países, a cineasta e fundadora da Raíz produções, desde 1974, Assunção Hernandes, respondeu algumas perguntas. Assunção faz parte do Conselho Consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema, é vice-presidente da FIPCA (Federação Ibero-americano de Produtores de Cinema e Audiovisual) e diretora para assuntos internacionais da ABEPC (Associação Brasileira de Empresas Produtoras de Cinema).


Para estabelecer uma co-produção com algum país que não possui acordo com o Brasil, qual procedimento é preciso ser tomado?


Nós temos dois tipos de co-produção. Um é um acordo entre países, governos. E outro é a co-produção entre países que não têm acordos entre si. Você pode fazer um contrato de produção com um país que não tem um acordo com o Brasil, mas para que o seu filme seja brasileiro precisa ter a participação de no mínimo 40% do orçamento do filme. Nesse caso a sua relação vai ser com o sindicato; significa que você tem que comprovar que nesta co-produção em que no caso não há acordo entre os países, há um mínimo determinado de técnicos e/ou atores brasileiros. A relação será sindical, cumprindo as exigências, as tarifas que você recolhe, percentuais ao pagamento de equipes e elencos externos no Brasil. Remete-se à agência de cinema e ao Ministério de Relações Exteriores somente para registrar e autorizar o trabalho de equipes estrangeiras no Brasil. Cumprindo o que está no acordo, a sua co-produção internacional com aquele país será oficializada.

Como fica a distribuição desses filmes co-produzidos?


Existe um edital chamado delivey, relativamente recente, que partiu da dificuldade da difusão dos filmes ibero-americanos no mundo, inclusive nos países onde o filme pronto pode receber 50% do orçamento que for apresentado para que seja distribuído no país do proponente e em outros países. Hoje se produzem muitos audiovisuais, mas a maior dificuldade é como fazer esses filmes circularem. Uma decisão importante tomada entre esses países é a de selecionar um número determinado de títulos, de filmes e dar um pequeno aporte para os produtores dos títulos que serão passados na televisão dos 18 países ibero-americanos.


Como você analisa o cenário cinematográfico brasileiro? Houve evolução significativa nas produções. Como o Brasil, na sua opinião, recebe esses filmes nacionais?


O maior problema que precisamos resolver agora é levar até os 90% da população brasileira, filmes independentes brasileiros que não tenham tido oportunidade de serem assistidos, porque não há salas em função de não haver acordos com grandes distribuidoras americanas. As salas que existem hoje no Brasil são extremamente caras para essa camada da população. Não achamos que temos a obrigação de levar os filmes para o povo, mas que todos têm o direito de ver o cinema brasileiro independente. A missão agora é fazer, ao lado de distribuidoras e autoridades, que esse caminho seja trilhado. A política pública de cinema tem que se preocupar com isso. E nós vamos ajudar a buscar essas respostas.

Cerca de 90% dos títulos dos filmes exibidos nas salas de cinema brasileiros não são falados em português; a sua maioria é em inglês, italiano, espanhol e francês. Há dificuldade da maior parte da população brasileira em assistir filmes legendados. A iniciativa e incentivo aos filmes brasileiros ainda é irrelevante no país.


Curiosidade


O senador Gerson Camata, por exemplo, começava as reuniões públicas, nas eleições passada, projetando um filme brasileiro. Essa medida sempre atraía uma multidão que logo depois ficava para presenciar seu discurso. Um certo dia, o senador, achando que seria do gosto do povo, levou uma grande produção americana para a reunião, em alguma praça do Brasil, e acabou provocando uma incomodação na platéia. Uma das pessoas que estava assistindo gritou de longe se podiam passar a legenda mais devagar. Mais uma vez isso prova que grande parte dos brasileiros não se beneficia dos filmes estrangeiros com legenda que estão no cinema. Somente 9% da população brasileira, classe A e B vão as 2.300 salas de cinema multiplex, dominantes no país. O malefício dessa desigualdade cultural acaba prejudicando todos os brasileiros por falta de salas e das emissoras televisivas, que preferem fazer grandes acordos com filmes norte-americanos.

domingo, 27 de junho de 2010

Segundo plano e sem foco

Poucas salas alternativas, mercado “americanizado” e recursos limitados dificultam o desenvolvimento de projetos independentes no cinema catarinense


Felipe Reis


O número é impressionante: apenas 8% das cidades brasileiras têm alguma sala de cinema. E instaladas dentro de shoppings centers. A constatação é dos próprios produtores culturais, principalmente ligados ao circuito alternativo, independente ou não-comercial. A escassez permite, cada vez mais, relegar a sétima arte ao segundo plano no cenário cultural do Brasil.

Em Santa Catarina o problema também existe. No interior do Estado, faltam espaços onde as produções possam ser exibidas. No litoral e na Capital, mais especificamente, empresas especializadas na montagem e operação de salas mantêm redes de dimensões continentais e focam, cada vez mais, na produção comercial. Filmes como Avatar, Se eu fosse você e Tropa de Elite estão entre os preferidos dos empresários e investidores. Os primeiros se interessam pela bilheteria que grandes cartazes podem arrecadar. Os segundos, na associação marqueteira dos seus nomes a verdadeiras febres midiáticas.

“Os maiores nomes do cinema nacional em 2008 e 2009 só obtiveram liderança em distribuição, exibição e bilheteria por terem apelo social, mas ainda assim ligado ao viés mercadológico. São tramas verossímeis para a população e por isso os produtores não têm dificuldade em obter patrocínio”, revela o produtor e professor de cinema da Universidade de São Carlos, João Massarolo. Essa consciência faz com que os produtores independentes saibam que fazem parte de um “gueto” onde as idéias tradicionais costumeiramente são deixadas de lado, mas os investimentos também demoram mais para chegar.

Parte dessa espécie de exclusão decorre justamente da pouca capilaridade das salas. Como no país não há uma legislação que obrigue as emissoras a cederem parte do tempo da programação diária ou semanal para a exibição dos trabalhos cinematográficos, o conteúdo fica restrito a espaços alternativos. “O cinema tem como ‘fazer acontecer’ os filmes não-comerciais através de ações inovadoras, que têm amplo apoio e repercussão em novos formatos”, diz Bhig Villas-Boas, representante da Santa Cine e membro do conselho consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema. “Recentemente uma marca de refrigerantes lançou um filme independente dentro de uma campanha publicitária, através de pequenas pílulas. Destacou o produto, destacou a marca dos apoiadores”.

Enquanto as novas mídias não são totalmente exploradas para a disseminação dos conteúdos independentes do cinema, as produções contam com pequenos e raros apoios de emissoras de TV. Em Santa Catarina, uma das janelas – o SC em Cena – ocupa um espaço de 15 minutos aos sábados, apenas uma vez por semana. Fora isso, quase nada. Outra iniciativa fora da mídia tradicional foi o Cine York, que por dez anos funcionou na cidade de São José, na Grande Florianópolis. A sala trazia os lançamentos de produtores de várias partes do mundo e que não estavam no circuito comercial, oferecia produções muito mais artísticas do que as de costume e fomentava debates acerca do desenvolvimento desse segmento. Mas o espaço foi fechado em 2008 e restou apenas o Cine Clube Desterro, no Centro Integrado de Cultura.

Mas fatos como esse não são vistos como um sinal de alerta pelos responsáveis pela cultura no Governo do Estado. Diretor geral da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Gilberto Savedra vê que as produções não devem depender só de festivais, mas contam com “diversos recursos” para serem filmadas, montadas e distribuídas. “Só para este ano o governo vai liberar R$ 1,9 milhão pelo Edital Catarinense de Cinema (antiga Cinemateca)”. Ele acredita ser “muito dinheiro”, mas, como os produtores, estende o pires e passa a responsabilidade ao Governo Federal. De fato o apoio de instâncias superiores pode contribuir para desenvolver o segmento, mas ações locais poderiam incrementaá-lo ainda mais.

“Nós já estamos acostumados” – diz o produtor Chico Faganello. “As produções internacionais ou nacionais com grande orçamento chamam a atenção dos eventuais patrocinadores, que preferem colocar o dinheiro num filme que vai ser exibido em todo o Brasil do que em outro, cuja chance de isso acontecer é menor”. Chico sabe também da trama que há por trás de todo o mercado cinematográfico, dentro e fora do país: “A maior parte dos grandes sucessos só é filmada depois de já ter um contrato de distribuição e exibição assinado”.

Tais constatações deveriam desestimular quem pretende viver – ou apenas produzir – o cinema em Santa Catarina, mas felizmente isso não acontece. Enquanto isso, os envolvidos aproveitam os espaços onde esse tipo de debate é viável. Um deles, o 14º Florianópolis Audiovisual do MERCOSUL, permite a troca de visões e perspectivas. A boa notícia é que a credibilidade e importância do evento já começam a introduzir a Capital e o Estado na rota internacional de recursos, desviando o foco do já tradicional, comercial e enriquecido eixo Rio-São Paulo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

“As melhores coisas do mundo”

por Mouriel Lanza

Mesmo sendo uma manhã de sexta-feira chuvosa em Florianópolis, a sala de exibição de filmes do FAM estava praticamente lotada. O filme exibido foi o recém lançado “As melhores coisas do mundo”, da diretora Laís Bodanski.

Foi um filme surpreendente, no qual de maneira muito singular a diretora consegue tratar o tema de uma forma que deixa o expectador vidrado e ansioso para as próximas cenas.

O filme fala a respeito de um jovem adolescente de 15 anos que vive todos os conflitos da adolescência. Sua primeira transa, os conflitos na escola, a descoberta do amor. Mostra de uma forma muito natural os problemas comuns que todo mundo tem no seu dia a dia.

Mano é apaixonado por música, gosta de ficar com as meninas e estar com seus amigos. Ele mora com a sua mãe e seu irmão. Seus pais são separados, e um dos principais conflitos que ele teve que enfrentar foi referente à descoberta dos seus colegas de escola, sobre a homossexualidade de seu pai.

Mano é agredido pelos colegas, é discriminado e sofre preconceito, mas de uma maneira muito matura ele consegue enfrentar esse problema de frente e busca junto aos seus amigos propor na chapa do grêmio alternativas para lidar com esse tipo de atitude de seus colegas.

Paralelo a isso, seu irmão Pedro leva um fora de sua namorada e entra numa grande depressão. Sua família fica preocupada com seu estado emocional, mas não leva muito a sério seu sofrimento, até o momento em que ele tenta o suicídio.

Com isso, Mano consegue perceber como é difícil se tornar adulto, como são complicados os problemas do dia a dia, mas sabe que sempre existem maneiras para ser feliz. Um filme emocionante e com uma belíssima produção, que vale muito a pena conferir.

Economia da Cultura é discutida no FAM

Por Laís Campos Moser

Refletir sobre as questões que envolvem o mercado cinematográfico e também o de outras manifestações culturais como música, arte, literatura etc., passa também pela discussão da economia da cultura. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Leandro Valiati, um dos organizadores do livro Economia da Cultura: bem-estar econômico e evolução cultural, esteve presente no 14º Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) pontuando o assunto.

Para Valiati confunde-se muito no país instrumento de política pública com a própria política pública: “Lei de Incentivo, Lei Rouanet, Lei do Audiovisual são instrumentos válidos, importantes, mas não podem ser a política de Estado”, ressaltou.

O economista acredita que o Brasil é um mercado em potencial para o consumo da cultura, já que no último trimestre o país cresceu 9%, uma taxa comparada à da economia chinesa. “As pessoas estão com mais renda, com mais dinheiro para consumir cultura”, afirmou. Entretanto, o país remete ao mercado exterior quase um bilhão de reais por ano em royalties de filmes estrangeiros que aqui são exibidos: “E isso é dinheiro nosso. Percebe-se a diferença entre o que foi enviado de remessa para fora e o que voltou dos nossos produtos culturais. É um déficit absurdo, que não tem comparação, de mais de 2000%. Em um país absolutamente rico em diversidade cultural, é um baita potencial jogado fora”, afirmou Leandro Valiati.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Encontro das Film Comissions termina com resultado positivo

por Carlos Eduardo Duarte

Junto ao Fam e todos os filmes e debates e fóruns e tudo mais que rolou nesses últimos dias na Ufsc, uma discussão importante para os “fazedores de cinema também estava em pauta. Era o I Encontro de Film Comissions da América Latina, que aconteceu no hotel Maria do Mar, no dia 11, 12 e 13 de junho.


O que é uma Film Commission?


As film comissions servem como facilitador para produções audiovisuais. Elas existem em todo o mundo e ditam as regras e os mecanismos necessários para uma produção. Promovem e divulgam a região em que será filmado o projeto servindo como órgão incentivador para o desenvolvimento da infraestrutura que as regiões possuem. Serve como um olheiro, que busca lugares propícios, de paisagem, facilidade de acesso. São instituições sem fins lucrativos, constituída pelo poder público federal, estadual e municipal e por entidades representativas do setor de turismo e cultura.

Essas possibilidades de negócios foram discutidas por vários países da América Latina como México, Chile, Argentina e Panamá. A idéia de “intercâmbio sem fronteira”, facilidades para coproduções internacionais e estratégias para impulsionar o crescimento e desenvolvimento da indústria e do turismo audiovisual na América Latina.

Mário Parente, coordenador de relações do Mercosul, resumiu o evento como “altamente positivo”. Para ele, a participação das comissões de outros países latino-americanos engrandeceu ainda mais o evento servindo como meio incentivador para criação de uma Film Comission aqui no estado.

A idéia é que o evento se repita anualmente, assim como o FAM, e que possa ser uma linha de apoio para continuar com uma política de desenvolvimento nessa troca de experiências, entre film comissions privadas e públicas. “A construção de uma linha de trabalho para consolidar mais um passo das produções audiovisuais é importante para que outras cidades se interessem e outras comissões sejam criadas”, conclui Parente.

Produções audiovisuais são sucesso no FAM

Os curtas da segunda feira, 14, foram do repente ao apagão da Ilha de Santa Catarina com o curta Blackout. Mas o que chamou mais a atenção dos espectadores foi o curta Bailão apresentado através de depoimentos de senhores homossexuais. No Bailão eles poderiam ser eles mesmos, com seus trejeitos, suas vontades seus desejos mais íntimos.

Em quase 17 minutos de curta, Marcelo Caetano o diretor do documentário Bailão, se uniu a senhores homossexuais sedentos por liberdade e vida, para mostrar a história de uma boate gay, que recebia pessoas de todos os tipos, todas as raças, mas principalmente coroas com urgência de vida, como o próprio diretor define em seu enredo.

Essa urgência, causada pela vida escondida atrás de máscaras masculinas e de um medo social de exclusão e repressão, causa, na melhor das palavras, um estranhamento, unido a uma alegria e um sentimento de alívio tanto de quem assiste como de quem vive aquele drama.

O local das histórias é o Bailão, boate escura com dançarinos abraçados ou encostados no bar. As imagens são de realização. Quando sai da Boate, a câmera já mostra o outro lado. O da solidão. Dá para pensar então que o bailão é o refúgio e que esse refúgio é uma outra vida, a tão sonhada, a do antes tarde do que nunca.

Curtas Competitivos

por Tamires Rodrigues



No penúltimo dia de curtas competitivos do Festival Audiovisual Mercosul, o FAM, teve como o curta brasileiro “Ensaio de Cinema” do diretor Allan Ribeiro e Produção 3 Moinhos. A ficção narra um dia na vida de dois dançarinos que ensaiam uma performance em homenagem ao Cinema Mundial. Esse ensaio de cinema constrói um sentimento de intimidade entre os personagens e a câmera.

A encenação dos dois atores traz uma construção audiovisual em que o elemento sonoro tem uma enorme importância na ficção. E os dois artistas sentados conversam e analisam e repensam sobre a performance e expressam um ao outro como poderiam melhorá-la, pois a ficção nos mostra que nada em frente à câmera é banal.

Esse curta-metragem está sendo bem recebido pelos festivais brasileiros internacionais de cinema. Ao todo, já são dez premiações com essa ficção, e é claro que a mais importante foi a recebida no último dia 12 deste mês no 38º Festival de Cine de Huesca, que venceu o Prêmio Cacho Pallero, na Espanha.

O representante da ficção no evento em Florianópolis, Gatto Larsen, afirma que o curta foi filmado em apenas um único dia, trazendo uma estrutura simples, mas com densidade de emoções e significados.


Enganos Acontecem


O curta competitivo “O Filme mais violento do mundo” de Gilberto Scarpa, não pode ser assistido nesta quinta-feira por conta do diretor ter levado por engano outro filme que já foi premiado no último 13º Festival Audiovisual Mercosul, FAM, “Os filmes que não fiz”.

O curta vencido em 2009 traz como narrador da história o próprio diretor Gilberto. A ficção narra todos os filmes que poderiam ser feitos e na ficção mostra todos os detalhes de como poderia ter feito cada filme. Mas por falta de alguns recursos, nenhum filme foi finalizado.

Com esse engano o público pode rever a grande ficção premiada pela melhor ficção do Festival Audiovisual em Florianópolis. É importante lembrar que o curta competitivo O filme mais violento do mundo continuará na competição, e poderá ser assistido nesta sexta-feira (18).

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Direito e Economia no Audiovisual

por Mouriell Lanza

Finalizando as atividades do último dia do FAM realizou-se na manhã desta sexta-feira, a palestra Direito e Economia no Audiovisual, que contou a participação do Presidente da Associação Brasileira de Direto e Economia do Entretenimento Petrus Barreto, e Lenadro Valiati, professor de economia da URGS.

A palestra aconteceu de uma forma muito diferenciada, num clima descontraído de bate papo. O tema principal da conversa foi a respeito da utilização de pequenos trechos musicais em obras audiovisuais, abordando as normas de Direitos Autorias e de Direito Econômico, pelas Editoras musicais e a dificuldade de negociação.
O palestrante Petrus Barreto falou a respeito da existência de um cartel entre as editorias musicais, quanto ao uso de trechos de músicas. “Umas das coisas mais difíceis hoje é você entrar no processo de sincronização musical e colocar uma música especialmente quando se está falando em documentário, explica o consultor jurídico Petrrus. E isso ocorre segundo ele, por conta de uma situação que vivemos hoje, que está relacionado ao direito econômico na existência do cartel entre as editorias musicas. “É um cartel silencioso que atua numa área essencial que é a cultura”, enfatiza Barreto.

A grande discussão envolve-se devido ao tempo que se pode utilizar uma música sem pagar os direitos autorais. E para que isso ocorra só é possível, se for alguns segundos da música. Mas a grande questão, é que não existe um tempo pré definido, então é necessário usar o bom senso de quem vai utilizar a trilha. Como por exemplo, o trecho de uma música clássica é diferente de uma musica popular e assim por diante...”Na verdade nós temos no Brasil hoje um cartel formado”, afirma Barreto. E explica que a diferença entre um audiovisual e um documentário, é que em um audiovisual pode-se utilizar qualquer trilha, se a música que se deseja colocar for muito cara, existem outras alternativas, pode-se trocar de trilha, mandar fazer uma, enfim, inúmeras maneiras de solucionar esse problema se a questão da música for o preço estabelecido pela editora” ressalva Petrus. O que não acontece quando se está produzindo um documentário, pois o documentário já diz pelo próprio nome que é o registro, é um documento. O que se faz na verdade é documentar determinado momento da história. Por isso não é possível substituir a música, “é fundamental utilizar a música que tocaram naquela situação retratada”, acrescenta Barreto. Mas se a editora pedir um valor muito alto pela musica, ou ainda não autorizar, isso compromete todo o registro fidedigno do que vai ser retratado. Essa uma das características da formação de cartel, por ter um determinado produto que é insubstituível por outro, monopolizando o seu valor.

A única alternativa para isso seria a criação de um Órgão regulador na área de direito autoral. “É possível, mas muito difícil determinar o preço de uma musica, em função da composição. É difícil estabelecer valor na área de entretenimento e cultura. Na realidade já temos mecanismos, que é o próprio ECADE que faz isso.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sétima Arte protagoniza mostra em Florianópolis

Por Joana Cabral

Até o dia 18 de junho são 182 horas de exibição de filmes premiados, curtas metragens, filmes infantis, além de debates e Fóruns na UFSC e no Hotel Maria do Mar, no bairro João Paulo, em Florianópolis.



Organizado pela Associação Cultural Panvision, o Florianópolis Audiovisual Mercosul recebeu a inscrição de 551 filmes inscrito e cerca de 140 filmes serão exibidos até o final do evento de forma gratuita à comunidade. Classificados como competitivos, não competitivos e de homenagem, os filmes são oferecidos todos os dias das 9 da manhã às 9 da noite de 11 a 18 de junho.

A mostra tem como objetivo tornar possível uma construção de conhecimento a respeito de cinema e suas várias linguagens. São 182 horas de exibição de filmes premiados, curtas metragens, filmes infantis, além de debates e Fóruns que ocorrem na própria UFSC e no Hotel Maria do Mar, no bairro João Paulo, em Florianópolis. Em todos esses locais instala-se uma forte relação com a imagem, à medida que todos os eventos e ambientes são cercados por câmeras que interagem livremente e registram o festival.

O FAM foi aberto na sexta-feira, dia 11, com a apresentação cultural do grupo Arreda Boi dos ingleses, que mostrou uma das consagradas manifestações folclóricas do lugar. Em seguida uma intervenção paralela, com o grupo de Choro quarteto de Clarinetes Nó na Madeira.

Visões, técnicas, fotografia, figurino, informações, dinamicidade, estão unidos para atrair o espectador no período que vai de 11 a 18 de junho na UFSC, onde acontecem também discussões sobre produções cinematográficas, recursos e projetos para incentivo das manifestação da sétima arte no Brasil.

O filme Cabeça a Prêmio, inspirado na obra do escritor Marçal de Aquino e dirigido por Marco Ricca, seu primeiro trabalho como diretor, foi exibido na noite de estréia do Festival e assistido por cerca de mil e quatrocentos espectadores. O enredo tem a atuação de Eduardo Moscovis e Cássio Gabus Mendes, “capangas” da família Menezes. interpretada por Fúlvio Stefanini e Otávio Muller, que atuam como poderosos fazendeiros da Região centro-oeste do Brasil. No papel de filha de um desses poderosos se encontra Alice Braga, que tem um caso com um dos empregados, interpretado pelo uruguaio Daniel Hendler.


Fóruns discutem desenvolvimento do cinema




Uma importante discussão teve início às 15 horas de segunda, 14 de junho, na sala Aroeira durante um dos Fóruns sobre a Indústria do Audiovisual e Economia. O debate reuniu Alessandra Meleiro, pós-doutoranda pela Universidade de Londres, o professor Dr. João Massarolo e o diretor da Ancine Mário Diamante, bacharel em Comunicação Social pela Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Mário contou com o apoio de números e comparações para falar sobre a evolução do cinema no Brasil, relatando através de gráficos a situação anterior e posterior às Leis de Incentivo do Governo Federal, bem como outros fatores como os programas especiais de fomento. Disse também que o objetivo geral da Ancine, com o Programa “Cinema perto de Você”, é acelerar o crescimento da produção de audiovisual no país, criando oportunidades para o seu desenvolvimento e oportunizando bons produtores e diretores a apresentarem seus projetos para análise de uma comissão responsável, que resulta em oportunidade de aprovação com a intenção de conseguir o financiamento necessário para a execução do projeto.

Em contraponto, Alessandra Meleiro, falou sobre a qualificação de quem está envolvido com o setor. Para ela, não basta apenas mandar um projeto; ele deve ser interessante. “Muitos projetos são rejeitados e isso só acontece devido à falta de qualidade dos materiais”. Não é porque existe uma verba destinada para a execução dessa atividade que pode ser utilizada em um filme que não tem um projeto plausível de execução, acrescentou.

Já João Massarolo, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que vê o cinema como uma franquia, na qual o produtor que pensa só em uma obra fica longe de outras visões. “Não existe mais obra única, e sim obra unitária”. Segundo ele, quem fica muito tempo desenvolvendo apenas um único projeto, como um filme, acaba se reduzindo a ele e glorificando-o. A sua idéia de franquia remete a algo padronizado, certamente bem elaborado.

O desenvolvimento de várias obras, com ou sem um destino específico, como um documentário ou um filme que faça referência a algo escrito por outro autor, faz das mostras de curtas-metragens um fantástico espetáculo da visão humana, onde os autores criam suas obras, que passaram por um crivo e expõem seu trabalho para avaliação pública. É mais um aprendizado com a mostra, que atrai as mais diferentes visões entre o público apreciador da arte, reunido em Florianópolis.

Cabeça a Prêmio

por Karine Santos



Realizado pela segunda vez na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Florianópolis Audiovisual Mercosul abriu suas portas para a 14ª edição, que acontece entre os dias 11 e 18 de junho e com recorde de inscrições. Ao todo foram 551 inscritos com produções de 14 países e 20 estados brasileiros. Durante os oito dias de festival foram exibidas 28 produções na Mostra de Curtas 35 mm, 36 produções na Mostra de Vídeos, 21 na Mostra Ifanto-Juvenil e 16 na Mostra de Longas não-competitivos, apresentados no Extra-FAM.


“Recebemos trabalhos com muita qualidade e seria um desperdício deixá-los de fora; então selecionamos 16 deles para serem exibidos no Extra-FAM”, explica Celso Santos, organizador do evento.

A atração mais esperada do festival foi a Mostra de Longas, que deixou a sala de 1.400 lugares do Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, lotada. As sessões são exibidas sempre às 21 horas e a entrada é gratuita. Cabeça a Prêmio foi o primeiro longa exibido no festival e contou com a presença do ator e roteirista Marco Ricca, que estreou também como diretor.

Ricca é formado em História pela PUC de São Paulo e trabalhou como professor por seis anos, mas acabou descobrindo que essa não era sua vocação. O que ele gostava mesmo era de atuar; já na faculdade juntou-se a um grupo de teatro amador. Em 1993 estreou na televisão na novela Renascer, da TV Globo e desde então não parou mais. No teatro ele contabiliza mais de 30 peças e suas atuações no cinema somam mais de 15 longas-metragens. Participou dos filmes O Invasor, em 2002, Rua 6, sem número, em 2003, O casamento de Romeu e Julieta, em 2004, O coronel e o lobisomem, em 2005. Em alguns desses trabalhos o ator também assume outras funções, como no caso do premiado longa-metragem Crime delicado, em 2005. Em 2006 Marco Ricca participou de O maior amor do mundo e Canta Maria.

Suas atuações lhe renderam prêmios no Festival de Cinema Brasileiro de Miami e uma indicação de melhor ator no Grande Prêmio Cinema Brasil. Nem de longe Cabeça a Prêmio parece trabalho de um diretor estreante. O Filme é denso, repleto de planos abertos que são usados para dar mais força aos personagens. Adaptação da obra homônima de Marçal Aquino, o filme conta a história da família Menezes, envolvida em negócios ilícitos no Pantanal. Um caso de amor e as disputas em negócios levam a família a tomar decisões extremas.






Quando você leu o livro de Marçal Aquino e decidiu fazer o filme quais foram as suas primeiras e grandes dificuldades?

Marco Ricca - Sem dúvida foi o dinheiro, acho que no Brasil essa é a principal dificuldade de fazer cinema. Você tem que pedir apoio em diversos lugares porque só um não é suficiente e para você ter idéia ainda estamos pagando o filme.
Mesmo enfrentando as dificuldades financeiras como você resumiria o que é fazer cinema no Brasil hoje?
Marco Ricca - Eu diria que fazer cinema no Brasil é muito bom. Quando você faz o que você gosta, as dificuldades só deixam mais prazeroso o seu trabalho. E temos grandes profissionais aqui no Brasil. Grandes atores, grandes técnicos. O “povo” faz cinema bem aqui.
Qual a importância de festivais como o FAM e o que você mais gosta nesses festivas?
Marco Ricca - Pra mim é uma honra estar participando do FAM e poder assistir o filme junto com o público. Acho que é em festivais como esse que o cinema cresce e a troca de idéias que rola nesses encontros é muito valiosa para o cinema brasileiro. Agora o que eu mais gosto é de observar a reação do público, porque você faz isso para as pessoas e aqui é muito interessante porque tem um público mais crítico, que entende de cinema.
Quando será o lançamento oficial de Cabeça a Prêmio?
Marco Ricca - O Lançamento será no dia 28 de agosto em todo o Brasil. Enquanto isso estamos participando de diversos festivais, inclusive fora do país. Nesse exato momento o filme está rolando lá em Nova Iorque no Cine Fest Petrobrás Brasil e o Edú (Moscovis) está lá.
Você já tem projetos para dirigir algum novo filme?
Marco Ricca - Eu tenho algumas idéias mas não vou falar porque ainda não está nada certo.
Já pensou em abandonar a carreira de ator para se dedicar somente como diretor?
Marco Ricca - Jamais. Eu gosto muito de atuar. Já produzi mais de 30 curtas e não atrapalhou em nada a minha carreira de ator. Como diretor não será diferente.

O cinema Brasileiro em crescimento

FAM aposta em coleção do CENA

por Tamires Rodrigues





Um dos atrativos da 14ª feira Audiovisual Mercosul em Florianópolis (FAM) na segunda-feira (14/06) foi o lançamento da coleção Indústria Cinematográfica e Audiovisual Brasileira, organizada por Alessandra Meleiro, coordenadora do Centro de Análise do Cinema e do Áudio visual (CENA). Em seu discurso, Alessandra relata que ainda faltam estudos nas universidades brasileiras sobre a economia da cultura e suas especificidades na área audiovisual na qual aponta uma enorme carência de coleta de dados.

A coleção foi organizada pelo Instituto Iniciativa Cultural e a Escrituras Editora, coordenado pela pesquisadora Alessandra. Os três volumes apresentam um panorama sobre o mercado econômico e de políticas publicas voltadas à área cinematográfica. Reúnem artigos de gestores, pesquisadores e profissionais do mercado. Tem como primeiro volume “Cinema e Políticas de Estado: da Embrafilme à Ancine”, que relata a história do cinema brasileiro. Já “Cinema e Economia Política” (volume II), traz um panorama de diversas análises da indústria econômica. Por fim o terceiro volume “Cinema e Mercado” retrata a produção, a exibição e a distribuição na área cinematográfica.



A coordenadora do CENA explica que vivemos um momento de estruturação desde os anos 90, com a criação das leis de incentivo do audiovisual e graças a esses movimentos de instauração política de estado foi possível se estruturar uma produção de longas-metragens no Brasil. E anualmente o país vem tendo uma produção consistente, pois vem lançando uma média de 70 a 90 filmes por ano, o que é significativo.

Hoje no atual mercado cinematográfico brasileiro os incentivos e as regulamentações governamentais desempenham um papel essencial na indústria local. E para a coordenadora o cinema brasileiro é um ranço de reiteradas temáticas que são voltadas à questão da pobreza, da periferia, da exclusão social, como se os cineastas retratassem somente essa fatia do país. Deixam de lado outro pedaço que é o das classes médias e dos que vivem nas grandes metrópoles, que não são especificamente os excluídos, mas um Brasil que não se revela na tela.

“Mas ainda faltam resolver alguns elos dessa cadeia audiovisual, como nas questões de distribuição, de acessibilidade de existência de salas de exibição e onde estão essas salas. Enfim, de alguma maneira se resolveu a questão da produção, mas há aspectos problemáticos como os elos da distribuição e da exibição”, acrescenta Alessandra Meleiro.

HISTÓRIA DO CINEMA FAM 2010

Exibe os filmes da Cinédia pela primeira vez em Santa Catarina

por Janaína Souza de Jesus

O 14º Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM) prestou homenagem à Cinédia estúdio cinematográfico que completou 80 anos no dia 15 de março deste ano. O festival deu a oportunidade de o público prestigiar alguns dos filmes clássicos da produtora pela primei-ra vez exibidos na capital catarinense. No sábado (12) à tarde, os espectadores assisti-ram O ébrio e, no domingo (13), a uma exibição dupla: O samba da vida e 24 horas de sonho.

Alice Gonzaga, escritora, pesquisadora, produtora e diretora da Cinédia, filha do fundador do estúdio cinematográfico, Adhemar Gonzaga, esteve presente na homenagem. “Alice representou os filmes apresentados, fez um relato com abordagens diferentes sobre as produções que deram sentido do motivo à homenagem à Cinédia, além da comemoração dos seus 80 anos”, relata Rafael Miranda, um dos coordenadores de mostras do FAM.

A Cinédia foi a primeira produtora cinematográfica criada no Brasil, teve seu auge nas décadas de 1930 e 1940, e ainda desenvolve trabalhos. Alice já faz parte da companhia há 30 anos. Desde o início de sua participação na empresa tem como principal objetivo restaurar e recuperar os filmes produzidos pela companhia.

Alice, como você se sente tendo essa responsabilidade de representar essa produtora que teve tanta importância no cinema e nas produções brasileiras?

Alice – Realmente a Cinédia é uma empresa importante, porque completar oito décadas não é qualquer empresa que consegue. Eu me sinto extremamente feliz por participar da homenagem do FAM e realizada com o grande sucesso que a companhia representa para o cinema brasileiro. Estou surpresa e já mais imaginei que ia participar dos 80 anos da produtora.

A história da Cinédia começou no Rio de Janeiro com o seu pai Adhemar Gonzaga. Como foi toda essa trajetória para chegar até aqui?
Alice – O estúdio cinematográfico é consequência de dois fatos: o filme Barro Humano e da revista Cinearte. A revista tinha um grande prestígio e sucesso. Importante e respeita-da, era muito lida nos Estados Unidos. Foi dirigida por Adhemar Gonzaga. A pedido dos exibidores brasileiros lançou um concurso da moça mais bela da sociedade, para partici-par de um filme. Cinearte, Palcos e Telas e outras revistas fizeram a maior propaganda sobre esse concurso, mas no final de tudo a moça que ganhou o concurso não fez o filme, porque os exibidores resolveram não produzi-lo mais. O senhor Gonzaga ficou muito a-borrecido e não aceitou a decisão. Então tentou achar uma outra alternativa, convocando uma reunião com os exibidores. Por causa dessa determinação foi muito criticado. Mas o italiano Paulo Benedetti, um dos precursores do cinema falado no Brasil, disse para meu pai que eles iriam fazer o filme. E daí nasceu Barro Humano, que foi um sucesso de pú-blico e crítica, muito aplaudido. Acabando o filme, Adhemar Gonzaga sentiu a necessida-de de criar um estúdio, a fim de ter uma infra-estrutura para desenvolver outros trabalhos. A partir desse momento meu pai embarcou na produção de filmes e criou a Fundação da Cinédia, que todos dizem ter sido um sonho de Adhemar Gonzaga, mas não foi bem um sonho. Ele fez o estúdio como um negócio, porque meu avô, pai do meu pai, já trabalhava um pouco com cinema. Meu avô ajudou os primeiros produtores do filme Crime da Mala –como ele mexia com loterias, todos esses bicheiros cercavam-no muito. Meu pai vendo o sucesso dos filmes dos bicheiros, resolveu fazer cinema profissional e adotou a idéia, i-naugurando a produtora em 15 de março de 1930, no Rio de Janeiro.


De 1930 até hoje muitos trabalhos foram realizados, ao todo quantos?
Alice - Ao longo desses anos foram produzidos 55 longas e 700 curtas, cinco jornais se-manais e os curtas-metragens viajando por todo o Brasil. Mas as grandes produções da Cinédia são os filmes clássicos dos anos 30, que revelaram muitos talentos.

Os talentos artísticos revelados nas produções da Cinédia fizeram história no Brasil, como Carmen Miranda, Dercy Gonçalves, Oscarito entre outros. Como você conviveu e convive com muitas dessas personalidades?

Alice – Convivi e convivo muito bem. Falo para as pessoas que estou muito bem protegi-da. Como nós fazemos as restaurações dos filmes e depois os exibimos, os artistas são lembrados a todo o momento. Por isso essas personalidades me agradecem e protegem sempre. Porque se eu não mostrar esses filmes quem iria saber hoje quem foi e é Jaime Costa, Monteiro Filho, Vicente Celestino ou até mesmo Carmen Miranda? A própria neta de Carmen não conhece a trajetória da avó. Enfim, é importante os filmes serem mostra-dos para recordar esses grandes talentos presentes nas nossas produções.

Dos três filmes exibidos na mostra comemorativa Cinédia do FAM 2010, qual deles você mais aprecia?
Alice – O ébrio, porque é um filme marcado de histórias e eterno para quem o assistiu. Ninguém esquece sua música e sempre foi um sucesso, no Sul principalmente, aqui em Florianópolis na época em que foi exibido também foi sucesso. É o filme mais visto no cinema brasileiro, recorde de bilheteria. Agora eu espero que os netos dos telespectado-res daquele tempo assistam. Como uma vez tive a oportunidade de presenciar no Recife, onde um garçom veio conversar comigo, falou que naquele dia não ia trabalhar, pois iria assistir O ébrio, que seu avô tinha indicado. Eu achei isso tão bonito que até me emocio-nei. Mas o outro filme, Samba da vida, também é uma ótima história. Ladrões invadem uma casa cujo proprietário tinha ido viajar, mas o dono da casa também era um ladrão. O filme tem um apelo muito grande. São os ladrões que estão roubando um ladrão. No de-correr dos fatos ficamos na expectativa do que vai acontecer. A produção é cheia de má-ximas e o seu final é muito bom. Jaime Costa dá um banho de interpretação. Já 24 anos de sonho é muito bonito, com luxuosíssimos móveis, ambientes, figurinos, tudo é um es-petáculo e mostra o Rio de Janeiro.

Qual a importância de festivais de cinema, como o Florianópolis Audiovisual do Mercosul, que reúne profissionais do setor trocando experiências, idéias e mostrando seus traba-lhos?
Alice – Os festivais são ótimos, porque você educa, forma e informa uma platéia, também divulga os trabalhos que foram apresentados. A cada ano o número de criações e produ-ções cinematográficas aumenta, mas faltam lugares para exibição. Então, o festival é uma ocasião única, sensacional.

Ao longo dos anos o cinema teve uma grande evolução tecnológica nas produções. O Brasil está bem nessa condição mundial, até porque está competindo com outros países? Qual a sua opinião?
Alice – A produção brasileira vai muito bem. São fantásticos os trabalhos que estão sendo desenvolvidos no cinema atual do nosso país.