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sábado, 2 de julho de 2011

Dupla Catarinense de A antropóloga lança Curta do FAM 2011

Texto poético de Renato Tapado se transforma em inspiração para a produção de Filme 

Por Kelli Pierini - acadêmica de Jornalismo na Unisul

O texto Mulher Azul de Renato Tapado foi adaptado e se transformou em um curta-metragem de Maria Emília e Zeca Pires, a mesma dupla responsável pela produção do longa-metragem A Antropóloga, lançado este ano nos cinemas. Mulher Azul foi estreado no Festival Audiovisual Mercosul FAM, que neste ano completa a sua 15ª edição.

O FAM foi criado para discutir as políticas para o desenvolvimento do setor cinematográfico nos países que constituem o Bloco do Mercosul. Diante da difusão cultural das diversas cinematografias do Brasil, o festival se consagrou como um dos mais importantes acontecimentos audiovisuais do sul do país. “Esse evento maravilhoso é uma grande oportunidade que reúne uma diversidade de público, uma diversidade de linguagens de estéticas e ainda é gratuito, diz a cineasta Maria Emília, que estreia o segundo filme no FAM (o primeiro foi Um tiro na água, em 2005).

O festival tem sido uma grande porta na descentralização, democratização e difusão de cultura, principalmente pelo espaço que tem proporcionado as obras cinematográficas catarinenses, é o que explica o roteirista Marcelo Esteves. “É importante ter um espaço que preserva e garante que a produção vai chegar lá. Quando colocamos os nossos filmes junto com outros filmes o espaço para exibição dos nossos são menores. A concorrência é muito maior.”

O FAM é um espaço para a quebra de barreiras mercadológicas, ressalta Maria Emília. “O problema do cinema nacional e o catarinense é a questão da distribuição e exibição. Nós produtores e realizadores ficamos reféns dessa distribuição, sem saber se o público vai gostar ou não por que eles não assistem e isso já nos impede de ter esse contexto. Por isso o FAM nos proporciona um outro espaço mais direto com o público.

O curta Mulher Azul é uma adaptação de um diário feminino, roteirizado pelo cineasta e professor Marcelo Esteves, segundo quem a principal dificuldade na adaptação da narrativa não foi o texto ser completamente feminino, mas sim as situações estáticas que é a característica do relato diário. “A questão de ser feminino não foi o problema, problema é adaptar um diário que não tem ações. Na verdade, um diário é constituído de impressões da personagem e é desafiante ter que inventar todas aquelas ações para sustentar o texto dele que é onde está o lirismo. Um pouco trabalhoso, mas interessante”.

Para o poeta, o gênero do trabalho dele se aproximou ao de Maria Emília, portanto, essa foi a peça chave para que a obra ficasse em completa harmonia “Ela faz um filme fora do convencional, no caso do Mulher Azul, é uma obra mais poética. O próprio tipo de cinema que Maria Emília faz se aproxima do tipo de texto que eu faço. O que combinou muito, além da beleza do filme, foi uma equipe feliz e bem entrosada. Gostei muito do filme”, afirma.

A narrativa começa quando M. se isola em uma casa à beira da água, deixando para trás a cidade grande com seus movimentos e sobressaltos, tentando parar o tempo de sua própria narrativa. Isolada, ela espera se aproximar das respostas que tanto procura. Não demora muito para que perceba que essa porção de tempo retirada do fluxo das horas apresenta suas próprias pulsões e movimentos internos.

Por trás do lirismo de “Mulher Azul” repousa a intenção de abordar a poética do tempo. O filme foi produzido na França, na cidade de Provence. “A frança me escolheu. Foi interessante que nós filmamos em quatro pessoas só, a equipe foi uma equipe de documentário”, alegra-se a diretora.


Entrevista:

com Maria Emilia diretora do Curta Mulher Azul

Fato & Versão: Sabemos que a sua inspiração para produzir o curta foi o Texto de Renato Tapado, mas o que te encantou no texto dele?

Maria Emília: A profundidade na essência feminina, isso me encantou e me chamou muito atenção, afinal de contas, é um homem escrevendo, mas separando essa questão do gênero. Exatamente essa profundidade em que a gente, como mulher, vai entrando. Sempre tem alguma coisa que mexe muito com a gente.

Fato & Versão: E por que escolheu a França?

Maria Emília: A frança me escolheu. Originalmente a narrativa indicava Brasil e Buenos Aires para cenas em câmera subjetiva dos cafés à noite. Esse tratamento era mais um retorno da personagem M. que, morava na Argentina e retornava ao Brasil para se isolar e questionar seu momento de vida. Com a possibilidade de rodar na Provence, a narrativa foi alterada.

Fato & Versão: Como ficou a questão de recursos financeiros para a produção do Curta?

Maria Emília: foi interessante que nós filmamos em quatro pessoas só, uma equipe de documentário. A produção foi pequena e estávamos em uma equipe masculina.

Fato & Versão: E Por que lançar no FAM?

Maria Emília: Por que o FAM é esse evento maravilhoso que vocês estão vendo, que reúne uma diversidade de público e é de graça e tá tudo aqui, entende? Então é uma grande oportunidade. Já é o segundo filme que eu estreio no FAM. O primeiro foi Um tiro na água, em 2005.

Fato & Versão: E o Filme A antropóloga?

Maria Emília: O A antropóloga foi a minha primeira produção executiva. Foi uma estréia muito gratificante que permaneceu semanas em cartaz no Iguatemi. Foi a primeira vez que um filme nosso aqui entra em cartaz e gerou um fato histórico. A narrativa resgata uma cultura antropologicamente, não fica na superfície. O Zeca com muita propriedade e com muito talento resgata Franklin Cascaes, incluindo-o na trama sem torná-lo uma coisa alegórica. Ele resgata o mito do Franklin configurado dentro de uma narrativa de uma essência em que nada aparece gratuitamente.

Fato & Versão: E qual é o cenário catarinense para as obras cinematográficas?

Maria Emília: O problema do cinema nacional e catarinense é a questão da distribuição e exibição e nós produtores e realizadores ficamos refém dessa distribuição. A gente não sabe se o público vai gostar ou não por que eles não assistem e isso já nos impede de ter esse contexto. Por isso que o FAM é muito importante, exatamente para quebrar essa barreira mercadológica.

Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cinema em Verde e Preto

Por Ana Maria Ghizzo - acadêmica de Jornalismo na Unisul

Quarta-feira, 29 de junho, uma das movimentadas noites do 15º Florianópolis Audiovisual Mercosul. Avistei-o de costas, ao longe. À primeira vista tudo o que pude ver foi seu paletó preto. O preto, na psicologia das cores, transmite introspecção, e por um tempo permaneci assim: introspectiva – rabiscando no papel pedacinhos do que conhecia dele só de ouvir falar.

Carlos Cavalcanti nasceu em Maceió. Aos 15 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes e começou a trabalhar com cinema. Sua estreia foi em 1963, estagiando na assistência de direção do longa-metragem O filho da rua, de Mauro Monteiro. Trabalhou como assistente de direção em mais de 25 longas-metragens, e a partir do início dos anos 80, dedicou-se inteiramente à produção. Na entrada do segundo milênio, mudou-se para Florianópolis.

O momento de romper o preto e partir para a entrevista sempre é difícil para mim. E até agora não sei ao certo se quem rompeu o silêncio fui eu, César, ou o cachecol verde que ele trazia no pescoço. O verde tem a fama de ser uma das cores mais harmoniosas e calmantes, representando natureza, perseverança, desenvolvimento e boa sorte. O verde tomou conta de tudo o que ele me contou a partir daí:

"A minha trajetória é muito longa, estou no cinema desde 1963, são quase cinquenta anos, quase meio século trabalhando no cinema. A princípio, quando se entra no cinema, não tinha escola nenhuma, a gente era meio autodidata mesmo, a gente fazia um pouco de tudo justamente para aprender. Depois de certo tempo comecei a me especializar um pouco mais na área de direção. Fui por muito tempo da área de direção, continuidade, assistente de direção. Em 1981 fui para Moçambique para trabalhar formando quadros de Moçambique. Moçambique tinha seis anos de independência de Portugal, então estava tudo quebrado, porque o que os portugueses não conseguiram levar quebraram, e deixaram lá à mingua. Fui um dos convidados para ir ajudar na área do cinema. No Instituto do Cinema tinham equipamentos doados pela Alemanha Oriental: negativos, tinha tudo, até laboratório e telejornal. Então trabalhei lá por um tempo, e quando voltei eu parei e pensei: “Eu não quero mais saber dessa coisa de direção, quero saber de produção”.

Comecei uma nova fase fazendo produção. Fiquei muito tempo como assistente de produção, diretor de produção, produtor executivo. Fiz muitos trabalhos para outros, fiz poucos curtas e poucos filmes meus, de autoria. E quando vim para cá, fui ver o filme do Sylvio Back, que me convidou para fazer o Cruz e Sousa, e aqui conheci muita gente. Inclusive, tinha uma pessoa filmando aqui e quando fui assistir a filmagem na Praça XV, um filme de época que era o Novembrada, e eu vi aquele aparato: câmeras, stand-cam, auto refletores, gruas – e pensei: “Meu Deus! É aqui! Não sabia que aqui tinha uma cinematografia tão avançada. É aqui que eu quero ficar mesmo. Eu vou trabalhar é aqui. Aqui, é o lugar onde quero morar!” – Acabou o filme e vim morar aqui, e cadê os filmões que havia? Era um engano! Total engano. (risadas) Então comecei a desenvolver projetos pequenos, para a gente fazer, eu e a Janete. A Janete faz roteiro também.

E aqui estou fazendo nossos trabalhinhos, atualmente não estou fazendo um filme, mas desenvolvendo um projeto que está na fase de captação. Com uma Produtora de São Paulo que gostou do projeto e vai enquadrá-lo na Ancine, na Lei do Audiovisual. É um longa-metragem de ficção baseado na história de uma catarinense que foi presa política e exilada. Ela é viva hoje, e tinha escrito um livro autobiográfico chamado No Corpo e na Alma. Então fizemos essa adaptação, eu e a Janete. Dei meus pitacos, naturalmente. Mostrei pra uma grande produtora de São Paulo que adorou e vai produzir, e eu vou só dirigir. Então estamos nesse momento, nessa fase que é a pior para uma produção. A primeira que é a de captação. Captar é terrível, é horrível, você não consegue recursos, ninguém quer botar dinheiro, e olha que tem a Lei de Incentivo, uma Lei que permite que as empresas, em vez de pagar o imposto para o governo, repassem esse valor para um projeto que elas apoiem. Mesmo assim é complicado. Então, essa é a primeira fase, e já de cara é dificílima, e a última que é a tal distribuição. Botar os nossos filmes no circuito comercial e nas telas, esse é o pior e sempre foi horrível isso.

Bom, contei apenas uma história e o paralelo é que continuo aqui, acho que nunca mais vou pra outro lugar morar, como já morei em tanto lugar, vou ficar aqui mesmo, e tentando ainda fazer cinema aqui. Logicamente isso passa pelas políticas também, que é uma coisa que me fascina muito, me encanta essa coisa de fazer as políticas, de mexer e se organizar, organizar as pessoas, reivindicar e promover. Estamos agora tentando organizar essa área do longa-metragem. Já tem uma quantidade boa de pessoas que fazem longas aqui. Não os curtas, né, porque os curtas saem pelo edital da Cinemateca, e os curtas deixem os novos que estão entrando fazerem os curtinhas deles. É uma fase boa, uma fase de desenvolvimento, de treino. E agora que já estamos um pouquinho mais velhos, a gente vai fazer os nossos longas, e para isso a gente tem que se organizar. Tem que se criar uma espécie de uma associação, pra gente se organizar e conseguir melhores dias de políticas públicas pro audiovisual de longa-metragem. Então essa é a minha vida, e hoje estou dando um pouco da minha experiência, para a gente se organizar e seguir em frente para continuar fazendo longas e não morrer isso aqui. Apesar de toda a adversidade, de tudo o que vem contra, é muito difícil enfrentar essa maré, principalmente se estivermos desunidos, separados.

Muitas coproduções já foram feitas a partir do FAM, com a Argentina, com o Uruguai. Os resultados já estão provados. Nessa edição do FAM, mesmo, tem duas coproduções, uma do Brasil com a Argentina e outra do Brasil com o Uruguai. Quer dizer que os frutos são muito bons. O FAM está permitindo esse encontro e conhecimento dos outros, inclusive companheiros de outros países, interligando, se ajudando, e o caminho é esse mesmo. Se não for assim, a gente vai só ficar esperando que o governo faça? A gente está hoje vendo uma coisa chamada Globalização, que é uma coisa perversa, está ai a economia para provar; dá um rombo lá não sei onde e a gente sofre as consequências aqui. Então, como é que a gente sobrevive diante disso tudo? Não só na questão cultural, do audiovisual em particular, mas de uma maneira geral, na vida do País, como é que a gente sobrevive sem ser assim? Com a direita que a gente sabe que é horrível, que só quer dar pra trás, que só critica, que só bombardeia. Uma mídia que está ao lado de uma minoria, da elite, do capital. No caso do cinema, nós, os chamados independentes, somos a maioria. Não é o cara que faz um filme em cinco anos. Fazer um filme grande demora anos, e ele pega aquela verba monstruosa e só faz um filme. Ele tirou verba que poderia ser dividida em vários, que poderia estar desenvolvendo e fazendo mais. Porque a partir da quantidade é que se chega a uma qualidade".

Uma conversa e muitas histórias naquela noite de FAM. Aliás, o grande barato do FAM é esse, encontrar e conhecer gente, trocar ideias, bater papo... Por que todo preto que está por ai sempre pode vir acompanhado de um tom de verde, basta a gente querer colorir.


Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.

Nossos Olhos de Cachorro Abandonado

Por Tomaz Lucas Alves - acadêmico de Jornalismo da Unisul

Estamos vendo a imagem do salão.
Ela é captada pelo olhar de pequeno cãozinho.
Perdido.
No meio do salão.
O vemos em perspectiva.
Parece um ser vivo agigantado.
Um aglomerado de vidas.
Vidas que se entrelaçam.
E essas vidas são pessoas.
De diferentes estilos.
Raças.
Cores.
Funcionam como um sem número de vasos sanguíneos.
Estendem-se nas mais recônditas extremidades do corpo.
Circulando o sangue do Salão.
Garapuvu.
É o nome dele.
Do salão.
O ser vivo agigantado, além de ter um nome, tem também um propósito.
Cinema.
Um festival de cinema.
Florianópolis Audiovisual Mercosul.
Também chamado de FAM.
O evento, quase um Colosso, traz mostra de filmes.
Curtos ou longos.
E estandes.
Também conhecidas como barraquinhas legais.
Várias delas.
De universidades.
E empresas de produção cinematográfica.
Ainda, como todo festival, reúne muita gente.
Pessoas de diversas cidades.
O FAM vai além das cidades.
Reúne pessoas de vários países.
Da América Latina.
Esse é o Décimo Quinto Festival.
Realizado em 2011 na Universidade federal de Santa Catarina.
UFSC.
Na verdade, no salão Garapuvu.
O cachorrinho volta a andar.
O nosso olhar escolhe um lugar com alta concentração de pessoas.
Luz forte.
Ajusta o foco.
Lenta e silenciosamente rumamos para essa direção.
Vemos um grupo de pessoas enfileiradas.
Estão ao redor de uma série de biombos.
Os biombos possuem pequenos cartazes colados.
Nosso ponto de vista de cachorro nos permite passar por entre as frestas entre as pessoas.
Guiamos o olhar para cima.
Vemos.
Um cartaz Vermelho.
No centro da cor carmesim temos uma pêra.
Ou talvez uma maçã.
Tem um furo ou recorte em forma de um losango rosado.
Ou avermelhado.
Nele, está escrito.
Contos Eróticos.
É um filme.
Ou foi.
Isso se você considerar o fato de ser antigo.
Nem precisava de título.
O cartaz sugere o óbvio.
Vemos.
Nossa ponte de vista de cachorro, que também é uma consciência livre, permite descobrirmos coisas que não deveríamos saber do local onde estamos.
O cartaz é uma das 27 peças expostas no FAM.
Foram criadas pelo artista carioca Fernando Pimenta.
O olhar se movimenta.
Mergulhamos num mar de falas, e luzes.
E portas.
Fechadas.
Um local movimentado.
Conhecido.
Parece uma área de diversão.
Não.
Errado.
Não é uma área de diversão.
Não apenas isso.
É o palco para o prato principal do FAM.
Um auditório.
É onde vai ter a mostra de curtas metragens do festival.
No caso extremamente específico do dia e momento em que nós aqui estamos, travestidos de pequeno cachorro, temos quatro filmes para ver.
Ou degustar.
E nem todos são brasileiros.
Apenas dois.
"Janela Molhada".
Sobre o resgate dos filmes mudos do Brasil.
E a estréia de "Mulher Azul".
Filme brasileiro gravado na França.
E temos outros dois estrangeiros.
Ou Mercosulizados.
Titanes.
Do Chile.
Sobre a ditadura militar nos anos 80 naquele país.
E Arbol.
Filme Argentino.
Sem falas.
E é sem falas que nos despedimos.
Deixamos o auditório para trás.
O Garapuvu vivo.
Nós deixamos nosso olhar de cachorro para o passado.
Voamos.
Para cima.
E de cima, observamos.
O ser vivo gigante.
O sangue que circula naquelas veias apaixonadas.
Por cinema.
Veias autênticas.
Veias latinas.


ENTREVISTA BATE E PRONTO!

No dia 29 de Junho, durante o 15º Florianópolis Audivisual do Mercosul... uma entrevista ao diretor do curta metragem argentino "Arbol", recém-exibido no festival!

Repórter: Senhor...
Diretor: Não me chame de senhor. Ainda sou muito novo para isso

(risos)

Repórter: Tudo bem! Desculpe! Mas... me fale um pouco sobre o filme.
Diretor: Bem... Arbol conta a história de um pai de família que está passando muito frio e ele precisa de lenha para aquecer a sua casa. Eles moram em uma casa bastante precária, no meio do nada. O pai tem receios de cortar a única árvore que restou na seca rigorosa. Acaba procurando alternativas para não cortar essa árvore. Consegue lenha cortando os móveis de madeira da casa, mas não quer cortar a árvore. É como se vivessem em um mundo apenas deles. Que apenas eles conhecessem. Gosto de dizer que é um tema grande em um filme pequeno. O tema da destruição ambiental.
Repórter: Hum... é como no livro brasileiro, Grande Sertão Veredas. O senhor...
Diretor: Você.
Reporter: ... Você conhece ou já leu?
Diretor: Conheço um pouco, mas nunca li.
Repórter: Nesse livro, tem uma frase que diz: O sertão está dentro da gente.
Diretor: É mais ou menos como o Arbol. A família carrega um pouco daquela árvore dentro de si.
Repórter: E qual foi o local usado para filmar?
Diretor: O curta foi filmado em Carlos Paz. É uma cidade muito próxima de Córdoba, na Argentina. São vizinhas.
Repórter: E o que o senho... você, pretendia com este filme? Tem uma mensagem?
Diretor: Podem-se ler muitas mensagens em Arbol. Depende muito do público. Da resposta do público com o que viu na tela. Pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar o interesse crescente das pessoas, das famílias, pela preservação. Mas basicamente, queria mostrar a relação do homem com a natureza.
Repórter: Percebi que neste filme não há diálogos, Por quê?
Diretor: Pela grandeza do tema, eu decidi fazer um filme que não possuísse um limite de idioma ou país. Arbol, tinha de ter uma narrativa e uma linguagem que fosse universal.
Reporter: Ok. Muito obrigado pela atenção que o senhor me deu e...
Diretor: Você. Me chame de você.
Reporter: (risos)


Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Cabeça a Prêmio

por Karine Santos



Realizado pela segunda vez na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Florianópolis Audiovisual Mercosul abriu suas portas para a 14ª edição, que acontece entre os dias 11 e 18 de junho e com recorde de inscrições. Ao todo foram 551 inscritos com produções de 14 países e 20 estados brasileiros. Durante os oito dias de festival foram exibidas 28 produções na Mostra de Curtas 35 mm, 36 produções na Mostra de Vídeos, 21 na Mostra Ifanto-Juvenil e 16 na Mostra de Longas não-competitivos, apresentados no Extra-FAM.


“Recebemos trabalhos com muita qualidade e seria um desperdício deixá-los de fora; então selecionamos 16 deles para serem exibidos no Extra-FAM”, explica Celso Santos, organizador do evento.

A atração mais esperada do festival foi a Mostra de Longas, que deixou a sala de 1.400 lugares do Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, lotada. As sessões são exibidas sempre às 21 horas e a entrada é gratuita. Cabeça a Prêmio foi o primeiro longa exibido no festival e contou com a presença do ator e roteirista Marco Ricca, que estreou também como diretor.

Ricca é formado em História pela PUC de São Paulo e trabalhou como professor por seis anos, mas acabou descobrindo que essa não era sua vocação. O que ele gostava mesmo era de atuar; já na faculdade juntou-se a um grupo de teatro amador. Em 1993 estreou na televisão na novela Renascer, da TV Globo e desde então não parou mais. No teatro ele contabiliza mais de 30 peças e suas atuações no cinema somam mais de 15 longas-metragens. Participou dos filmes O Invasor, em 2002, Rua 6, sem número, em 2003, O casamento de Romeu e Julieta, em 2004, O coronel e o lobisomem, em 2005. Em alguns desses trabalhos o ator também assume outras funções, como no caso do premiado longa-metragem Crime delicado, em 2005. Em 2006 Marco Ricca participou de O maior amor do mundo e Canta Maria.

Suas atuações lhe renderam prêmios no Festival de Cinema Brasileiro de Miami e uma indicação de melhor ator no Grande Prêmio Cinema Brasil. Nem de longe Cabeça a Prêmio parece trabalho de um diretor estreante. O Filme é denso, repleto de planos abertos que são usados para dar mais força aos personagens. Adaptação da obra homônima de Marçal Aquino, o filme conta a história da família Menezes, envolvida em negócios ilícitos no Pantanal. Um caso de amor e as disputas em negócios levam a família a tomar decisões extremas.






Quando você leu o livro de Marçal Aquino e decidiu fazer o filme quais foram as suas primeiras e grandes dificuldades?

Marco Ricca - Sem dúvida foi o dinheiro, acho que no Brasil essa é a principal dificuldade de fazer cinema. Você tem que pedir apoio em diversos lugares porque só um não é suficiente e para você ter idéia ainda estamos pagando o filme.
Mesmo enfrentando as dificuldades financeiras como você resumiria o que é fazer cinema no Brasil hoje?
Marco Ricca - Eu diria que fazer cinema no Brasil é muito bom. Quando você faz o que você gosta, as dificuldades só deixam mais prazeroso o seu trabalho. E temos grandes profissionais aqui no Brasil. Grandes atores, grandes técnicos. O “povo” faz cinema bem aqui.
Qual a importância de festivais como o FAM e o que você mais gosta nesses festivas?
Marco Ricca - Pra mim é uma honra estar participando do FAM e poder assistir o filme junto com o público. Acho que é em festivais como esse que o cinema cresce e a troca de idéias que rola nesses encontros é muito valiosa para o cinema brasileiro. Agora o que eu mais gosto é de observar a reação do público, porque você faz isso para as pessoas e aqui é muito interessante porque tem um público mais crítico, que entende de cinema.
Quando será o lançamento oficial de Cabeça a Prêmio?
Marco Ricca - O Lançamento será no dia 28 de agosto em todo o Brasil. Enquanto isso estamos participando de diversos festivais, inclusive fora do país. Nesse exato momento o filme está rolando lá em Nova Iorque no Cine Fest Petrobrás Brasil e o Edú (Moscovis) está lá.
Você já tem projetos para dirigir algum novo filme?
Marco Ricca - Eu tenho algumas idéias mas não vou falar porque ainda não está nada certo.
Já pensou em abandonar a carreira de ator para se dedicar somente como diretor?
Marco Ricca - Jamais. Eu gosto muito de atuar. Já produzi mais de 30 curtas e não atrapalhou em nada a minha carreira de ator. Como diretor não será diferente.

HISTÓRIA DO CINEMA FAM 2010

Exibe os filmes da Cinédia pela primeira vez em Santa Catarina

por Janaína Souza de Jesus

O 14º Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM) prestou homenagem à Cinédia estúdio cinematográfico que completou 80 anos no dia 15 de março deste ano. O festival deu a oportunidade de o público prestigiar alguns dos filmes clássicos da produtora pela primei-ra vez exibidos na capital catarinense. No sábado (12) à tarde, os espectadores assisti-ram O ébrio e, no domingo (13), a uma exibição dupla: O samba da vida e 24 horas de sonho.

Alice Gonzaga, escritora, pesquisadora, produtora e diretora da Cinédia, filha do fundador do estúdio cinematográfico, Adhemar Gonzaga, esteve presente na homenagem. “Alice representou os filmes apresentados, fez um relato com abordagens diferentes sobre as produções que deram sentido do motivo à homenagem à Cinédia, além da comemoração dos seus 80 anos”, relata Rafael Miranda, um dos coordenadores de mostras do FAM.

A Cinédia foi a primeira produtora cinematográfica criada no Brasil, teve seu auge nas décadas de 1930 e 1940, e ainda desenvolve trabalhos. Alice já faz parte da companhia há 30 anos. Desde o início de sua participação na empresa tem como principal objetivo restaurar e recuperar os filmes produzidos pela companhia.

Alice, como você se sente tendo essa responsabilidade de representar essa produtora que teve tanta importância no cinema e nas produções brasileiras?

Alice – Realmente a Cinédia é uma empresa importante, porque completar oito décadas não é qualquer empresa que consegue. Eu me sinto extremamente feliz por participar da homenagem do FAM e realizada com o grande sucesso que a companhia representa para o cinema brasileiro. Estou surpresa e já mais imaginei que ia participar dos 80 anos da produtora.

A história da Cinédia começou no Rio de Janeiro com o seu pai Adhemar Gonzaga. Como foi toda essa trajetória para chegar até aqui?
Alice – O estúdio cinematográfico é consequência de dois fatos: o filme Barro Humano e da revista Cinearte. A revista tinha um grande prestígio e sucesso. Importante e respeita-da, era muito lida nos Estados Unidos. Foi dirigida por Adhemar Gonzaga. A pedido dos exibidores brasileiros lançou um concurso da moça mais bela da sociedade, para partici-par de um filme. Cinearte, Palcos e Telas e outras revistas fizeram a maior propaganda sobre esse concurso, mas no final de tudo a moça que ganhou o concurso não fez o filme, porque os exibidores resolveram não produzi-lo mais. O senhor Gonzaga ficou muito a-borrecido e não aceitou a decisão. Então tentou achar uma outra alternativa, convocando uma reunião com os exibidores. Por causa dessa determinação foi muito criticado. Mas o italiano Paulo Benedetti, um dos precursores do cinema falado no Brasil, disse para meu pai que eles iriam fazer o filme. E daí nasceu Barro Humano, que foi um sucesso de pú-blico e crítica, muito aplaudido. Acabando o filme, Adhemar Gonzaga sentiu a necessida-de de criar um estúdio, a fim de ter uma infra-estrutura para desenvolver outros trabalhos. A partir desse momento meu pai embarcou na produção de filmes e criou a Fundação da Cinédia, que todos dizem ter sido um sonho de Adhemar Gonzaga, mas não foi bem um sonho. Ele fez o estúdio como um negócio, porque meu avô, pai do meu pai, já trabalhava um pouco com cinema. Meu avô ajudou os primeiros produtores do filme Crime da Mala –como ele mexia com loterias, todos esses bicheiros cercavam-no muito. Meu pai vendo o sucesso dos filmes dos bicheiros, resolveu fazer cinema profissional e adotou a idéia, i-naugurando a produtora em 15 de março de 1930, no Rio de Janeiro.


De 1930 até hoje muitos trabalhos foram realizados, ao todo quantos?
Alice - Ao longo desses anos foram produzidos 55 longas e 700 curtas, cinco jornais se-manais e os curtas-metragens viajando por todo o Brasil. Mas as grandes produções da Cinédia são os filmes clássicos dos anos 30, que revelaram muitos talentos.

Os talentos artísticos revelados nas produções da Cinédia fizeram história no Brasil, como Carmen Miranda, Dercy Gonçalves, Oscarito entre outros. Como você conviveu e convive com muitas dessas personalidades?

Alice – Convivi e convivo muito bem. Falo para as pessoas que estou muito bem protegi-da. Como nós fazemos as restaurações dos filmes e depois os exibimos, os artistas são lembrados a todo o momento. Por isso essas personalidades me agradecem e protegem sempre. Porque se eu não mostrar esses filmes quem iria saber hoje quem foi e é Jaime Costa, Monteiro Filho, Vicente Celestino ou até mesmo Carmen Miranda? A própria neta de Carmen não conhece a trajetória da avó. Enfim, é importante os filmes serem mostra-dos para recordar esses grandes talentos presentes nas nossas produções.

Dos três filmes exibidos na mostra comemorativa Cinédia do FAM 2010, qual deles você mais aprecia?
Alice – O ébrio, porque é um filme marcado de histórias e eterno para quem o assistiu. Ninguém esquece sua música e sempre foi um sucesso, no Sul principalmente, aqui em Florianópolis na época em que foi exibido também foi sucesso. É o filme mais visto no cinema brasileiro, recorde de bilheteria. Agora eu espero que os netos dos telespectado-res daquele tempo assistam. Como uma vez tive a oportunidade de presenciar no Recife, onde um garçom veio conversar comigo, falou que naquele dia não ia trabalhar, pois iria assistir O ébrio, que seu avô tinha indicado. Eu achei isso tão bonito que até me emocio-nei. Mas o outro filme, Samba da vida, também é uma ótima história. Ladrões invadem uma casa cujo proprietário tinha ido viajar, mas o dono da casa também era um ladrão. O filme tem um apelo muito grande. São os ladrões que estão roubando um ladrão. No de-correr dos fatos ficamos na expectativa do que vai acontecer. A produção é cheia de má-ximas e o seu final é muito bom. Jaime Costa dá um banho de interpretação. Já 24 anos de sonho é muito bonito, com luxuosíssimos móveis, ambientes, figurinos, tudo é um es-petáculo e mostra o Rio de Janeiro.

Qual a importância de festivais de cinema, como o Florianópolis Audiovisual do Mercosul, que reúne profissionais do setor trocando experiências, idéias e mostrando seus traba-lhos?
Alice – Os festivais são ótimos, porque você educa, forma e informa uma platéia, também divulga os trabalhos que foram apresentados. A cada ano o número de criações e produ-ções cinematográficas aumenta, mas faltam lugares para exibição. Então, o festival é uma ocasião única, sensacional.

Ao longo dos anos o cinema teve uma grande evolução tecnológica nas produções. O Brasil está bem nessa condição mundial, até porque está competindo com outros países? Qual a sua opinião?
Alice – A produção brasileira vai muito bem. São fantásticos os trabalhos que estão sendo desenvolvidos no cinema atual do nosso país.