quinta-feira, 17 de junho de 2010

HISTÓRIA DO CINEMA FAM 2010

Exibe os filmes da Cinédia pela primeira vez em Santa Catarina

por Janaína Souza de Jesus

O 14º Florianópolis Audiovisual do Mercosul (FAM) prestou homenagem à Cinédia estúdio cinematográfico que completou 80 anos no dia 15 de março deste ano. O festival deu a oportunidade de o público prestigiar alguns dos filmes clássicos da produtora pela primei-ra vez exibidos na capital catarinense. No sábado (12) à tarde, os espectadores assisti-ram O ébrio e, no domingo (13), a uma exibição dupla: O samba da vida e 24 horas de sonho.

Alice Gonzaga, escritora, pesquisadora, produtora e diretora da Cinédia, filha do fundador do estúdio cinematográfico, Adhemar Gonzaga, esteve presente na homenagem. “Alice representou os filmes apresentados, fez um relato com abordagens diferentes sobre as produções que deram sentido do motivo à homenagem à Cinédia, além da comemoração dos seus 80 anos”, relata Rafael Miranda, um dos coordenadores de mostras do FAM.

A Cinédia foi a primeira produtora cinematográfica criada no Brasil, teve seu auge nas décadas de 1930 e 1940, e ainda desenvolve trabalhos. Alice já faz parte da companhia há 30 anos. Desde o início de sua participação na empresa tem como principal objetivo restaurar e recuperar os filmes produzidos pela companhia.

Alice, como você se sente tendo essa responsabilidade de representar essa produtora que teve tanta importância no cinema e nas produções brasileiras?

Alice – Realmente a Cinédia é uma empresa importante, porque completar oito décadas não é qualquer empresa que consegue. Eu me sinto extremamente feliz por participar da homenagem do FAM e realizada com o grande sucesso que a companhia representa para o cinema brasileiro. Estou surpresa e já mais imaginei que ia participar dos 80 anos da produtora.

A história da Cinédia começou no Rio de Janeiro com o seu pai Adhemar Gonzaga. Como foi toda essa trajetória para chegar até aqui?
Alice – O estúdio cinematográfico é consequência de dois fatos: o filme Barro Humano e da revista Cinearte. A revista tinha um grande prestígio e sucesso. Importante e respeita-da, era muito lida nos Estados Unidos. Foi dirigida por Adhemar Gonzaga. A pedido dos exibidores brasileiros lançou um concurso da moça mais bela da sociedade, para partici-par de um filme. Cinearte, Palcos e Telas e outras revistas fizeram a maior propaganda sobre esse concurso, mas no final de tudo a moça que ganhou o concurso não fez o filme, porque os exibidores resolveram não produzi-lo mais. O senhor Gonzaga ficou muito a-borrecido e não aceitou a decisão. Então tentou achar uma outra alternativa, convocando uma reunião com os exibidores. Por causa dessa determinação foi muito criticado. Mas o italiano Paulo Benedetti, um dos precursores do cinema falado no Brasil, disse para meu pai que eles iriam fazer o filme. E daí nasceu Barro Humano, que foi um sucesso de pú-blico e crítica, muito aplaudido. Acabando o filme, Adhemar Gonzaga sentiu a necessida-de de criar um estúdio, a fim de ter uma infra-estrutura para desenvolver outros trabalhos. A partir desse momento meu pai embarcou na produção de filmes e criou a Fundação da Cinédia, que todos dizem ter sido um sonho de Adhemar Gonzaga, mas não foi bem um sonho. Ele fez o estúdio como um negócio, porque meu avô, pai do meu pai, já trabalhava um pouco com cinema. Meu avô ajudou os primeiros produtores do filme Crime da Mala –como ele mexia com loterias, todos esses bicheiros cercavam-no muito. Meu pai vendo o sucesso dos filmes dos bicheiros, resolveu fazer cinema profissional e adotou a idéia, i-naugurando a produtora em 15 de março de 1930, no Rio de Janeiro.


De 1930 até hoje muitos trabalhos foram realizados, ao todo quantos?
Alice - Ao longo desses anos foram produzidos 55 longas e 700 curtas, cinco jornais se-manais e os curtas-metragens viajando por todo o Brasil. Mas as grandes produções da Cinédia são os filmes clássicos dos anos 30, que revelaram muitos talentos.

Os talentos artísticos revelados nas produções da Cinédia fizeram história no Brasil, como Carmen Miranda, Dercy Gonçalves, Oscarito entre outros. Como você conviveu e convive com muitas dessas personalidades?

Alice – Convivi e convivo muito bem. Falo para as pessoas que estou muito bem protegi-da. Como nós fazemos as restaurações dos filmes e depois os exibimos, os artistas são lembrados a todo o momento. Por isso essas personalidades me agradecem e protegem sempre. Porque se eu não mostrar esses filmes quem iria saber hoje quem foi e é Jaime Costa, Monteiro Filho, Vicente Celestino ou até mesmo Carmen Miranda? A própria neta de Carmen não conhece a trajetória da avó. Enfim, é importante os filmes serem mostra-dos para recordar esses grandes talentos presentes nas nossas produções.

Dos três filmes exibidos na mostra comemorativa Cinédia do FAM 2010, qual deles você mais aprecia?
Alice – O ébrio, porque é um filme marcado de histórias e eterno para quem o assistiu. Ninguém esquece sua música e sempre foi um sucesso, no Sul principalmente, aqui em Florianópolis na época em que foi exibido também foi sucesso. É o filme mais visto no cinema brasileiro, recorde de bilheteria. Agora eu espero que os netos dos telespectado-res daquele tempo assistam. Como uma vez tive a oportunidade de presenciar no Recife, onde um garçom veio conversar comigo, falou que naquele dia não ia trabalhar, pois iria assistir O ébrio, que seu avô tinha indicado. Eu achei isso tão bonito que até me emocio-nei. Mas o outro filme, Samba da vida, também é uma ótima história. Ladrões invadem uma casa cujo proprietário tinha ido viajar, mas o dono da casa também era um ladrão. O filme tem um apelo muito grande. São os ladrões que estão roubando um ladrão. No de-correr dos fatos ficamos na expectativa do que vai acontecer. A produção é cheia de má-ximas e o seu final é muito bom. Jaime Costa dá um banho de interpretação. Já 24 anos de sonho é muito bonito, com luxuosíssimos móveis, ambientes, figurinos, tudo é um es-petáculo e mostra o Rio de Janeiro.

Qual a importância de festivais de cinema, como o Florianópolis Audiovisual do Mercosul, que reúne profissionais do setor trocando experiências, idéias e mostrando seus traba-lhos?
Alice – Os festivais são ótimos, porque você educa, forma e informa uma platéia, também divulga os trabalhos que foram apresentados. A cada ano o número de criações e produ-ções cinematográficas aumenta, mas faltam lugares para exibição. Então, o festival é uma ocasião única, sensacional.

Ao longo dos anos o cinema teve uma grande evolução tecnológica nas produções. O Brasil está bem nessa condição mundial, até porque está competindo com outros países? Qual a sua opinião?
Alice – A produção brasileira vai muito bem. São fantásticos os trabalhos que estão sendo desenvolvidos no cinema atual do nosso país.

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