Por Ana Paula Santos - acadêmica de Jornalismo na Unisul
Na última terça-feira, 28, uma ficção convidada da Mostra de Curtas Mercosul ganhou destaque no palco do FAM [Florianópolis Audiovisual Mercosul]. O curta Mulher Azul é uma narrativa inspirada na obra do escritor Renato Tapado, publicada em 2002. Uma mulher se isola numa casa, em Provence, França, para esperar por não se sabe o quê. Enquanto espera, escreve um diário no qual registra seus estados de alma. As informações vão se revelando através de velhas fotografias, um rápido telefonema e nada mais.
O escritor aprovou o resultado do curta. Destaca a poesia e a beleza da ficção, características da cineasta catarinense, com seu olhar feminino na direção. "Eu gostei muito do filme, a Maria Emilia faz um filme diferente do convencional, se aproxima com o tipo de texto que eu faço. O diretor tem total liberdade de adaptar o livro e fiquei satisfeito com o resultado", conta. Ele ainda revela que Mulher Azul é um diário feminino que não tem exatamente um lugar, mas por uma série de fatores, combinou exatamente com o local onde foi gravado.
Maria Emilia de Azevedo foi encantada pelo diário feminino escrito por um homem, orgulha-se ao dizer que a França a escolheu para rodar o filme e a equipe que se ajudou em todos os momentos, não deixando que os custos e o deslocamento abalassem a produção. "A profundidade da essência feminina, isso me encantou e me chamou muita atenção, alias é um homem escrevendo. O curta era para ser rodado em Buenos Aires e Brasil, mas houve a possibilidade de rodarmos na França e adaptar um pouco o roteiro. Foi uma equipe de documentário, o diretor de fotografia, o produtor executivo, o roteirista, eu e a atriz". A cineasta concentra em seu currículo alguns curtas como Alva Paixão, Um Tiro na Asa e A Coroa. Também foi produtora executiva do filme A Antropóloga.
O coordenador do curso de cinema da Unisul, Marcelo Esteves foi o roteirista responsável pela adaptação do livro ao curta, já foi indicado ao Prêmio da Academia Brasileira de Letras concorrendo na categoria “Adaptação de Literatura Brasileira para o Cinema” e avalia de modo positivo o trabalho.
"A dificuldade é traçar um diário que não tem ações. Só temos as impressões da personagem, então tem que inventar todas aquelas ações para sustentar o texto, um pouco trabalhoso, mas interessante”. A ficção teve duração de 20 minutos, envolvidos de forma poética, romântica e feminina. É possível perceber o que a Mulher Azul sente naquele momento, as reflexões sobre a sua vida traçadas diariamente nas folhas de um caderno.
Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Nossos Olhos de Cachorro Abandonado
Por Tomaz Lucas Alves - acadêmico de Jornalismo da Unisul
Estamos vendo a imagem do salão.
Ela é captada pelo olhar de pequeno cãozinho.
Perdido.
No meio do salão.
O vemos em perspectiva.
Parece um ser vivo agigantado.
Um aglomerado de vidas.
Vidas que se entrelaçam.
E essas vidas são pessoas.
De diferentes estilos.
Raças.
Cores.
Funcionam como um sem número de vasos sanguíneos.
Estendem-se nas mais recônditas extremidades do corpo.
Circulando o sangue do Salão.
Garapuvu.
É o nome dele.
Do salão.
O ser vivo agigantado, além de ter um nome, tem também um propósito.
Cinema.
Um festival de cinema.
Florianópolis Audiovisual Mercosul.
Também chamado de FAM.
O evento, quase um Colosso, traz mostra de filmes.
Curtos ou longos.
E estandes.
Também conhecidas como barraquinhas legais.
Várias delas.
De universidades.
E empresas de produção cinematográfica.
Ainda, como todo festival, reúne muita gente.
Pessoas de diversas cidades.
O FAM vai além das cidades.
Reúne pessoas de vários países.
Da América Latina.
Esse é o Décimo Quinto Festival.
Realizado em 2011 na Universidade federal de Santa Catarina.
UFSC.
Na verdade, no salão Garapuvu.
O cachorrinho volta a andar.
O nosso olhar escolhe um lugar com alta concentração de pessoas.
Luz forte.
Ajusta o foco.
Lenta e silenciosamente rumamos para essa direção.
Vemos um grupo de pessoas enfileiradas.
Estão ao redor de uma série de biombos.
Os biombos possuem pequenos cartazes colados.
Nosso ponto de vista de cachorro nos permite passar por entre as frestas entre as pessoas.
Guiamos o olhar para cima.
Vemos.
Um cartaz Vermelho.
No centro da cor carmesim temos uma pêra.
Ou talvez uma maçã.
Tem um furo ou recorte em forma de um losango rosado.
Ou avermelhado.
Nele, está escrito.
Contos Eróticos.
É um filme.
Ou foi.
Isso se você considerar o fato de ser antigo.
Nem precisava de título.
O cartaz sugere o óbvio.
Vemos.
Nossa ponte de vista de cachorro, que também é uma consciência livre, permite descobrirmos coisas que não deveríamos saber do local onde estamos.
O cartaz é uma das 27 peças expostas no FAM.
Foram criadas pelo artista carioca Fernando Pimenta.
O olhar se movimenta.
Mergulhamos num mar de falas, e luzes.
E portas.
Fechadas.
Um local movimentado.
Conhecido.
Parece uma área de diversão.
Não.
Errado.
Não é uma área de diversão.
Não apenas isso.
É o palco para o prato principal do FAM.
Um auditório.
É onde vai ter a mostra de curtas metragens do festival.
No caso extremamente específico do dia e momento em que nós aqui estamos, travestidos de pequeno cachorro, temos quatro filmes para ver.
Ou degustar.
E nem todos são brasileiros.
Apenas dois.
"Janela Molhada".
Sobre o resgate dos filmes mudos do Brasil.
E a estréia de "Mulher Azul".
Filme brasileiro gravado na França.
E temos outros dois estrangeiros.
Ou Mercosulizados.
Titanes.
Do Chile.
Sobre a ditadura militar nos anos 80 naquele país.
E Arbol.
Filme Argentino.
Sem falas.
E é sem falas que nos despedimos.
Deixamos o auditório para trás.
O Garapuvu vivo.
Nós deixamos nosso olhar de cachorro para o passado.
Voamos.
Para cima.
E de cima, observamos.
O ser vivo gigante.
O sangue que circula naquelas veias apaixonadas.
Por cinema.
Veias autênticas.
Veias latinas.
ENTREVISTA BATE E PRONTO!
No dia 29 de Junho, durante o 15º Florianópolis Audivisual do Mercosul... uma entrevista ao diretor do curta metragem argentino "Arbol", recém-exibido no festival!
Repórter: Senhor...
Diretor: Não me chame de senhor. Ainda sou muito novo para isso
(risos)
Repórter: Tudo bem! Desculpe! Mas... me fale um pouco sobre o filme.
Diretor: Bem... Arbol conta a história de um pai de família que está passando muito frio e ele precisa de lenha para aquecer a sua casa. Eles moram em uma casa bastante precária, no meio do nada. O pai tem receios de cortar a única árvore que restou na seca rigorosa. Acaba procurando alternativas para não cortar essa árvore. Consegue lenha cortando os móveis de madeira da casa, mas não quer cortar a árvore. É como se vivessem em um mundo apenas deles. Que apenas eles conhecessem. Gosto de dizer que é um tema grande em um filme pequeno. O tema da destruição ambiental.
Repórter: Hum... é como no livro brasileiro, Grande Sertão Veredas. O senhor...
Diretor: Você.
Reporter: ... Você conhece ou já leu?
Diretor: Conheço um pouco, mas nunca li.
Repórter: Nesse livro, tem uma frase que diz: O sertão está dentro da gente.
Diretor: É mais ou menos como o Arbol. A família carrega um pouco daquela árvore dentro de si.
Repórter: E qual foi o local usado para filmar?
Diretor: O curta foi filmado em Carlos Paz. É uma cidade muito próxima de Córdoba, na Argentina. São vizinhas.
Repórter: E o que o senho... você, pretendia com este filme? Tem uma mensagem?
Diretor: Podem-se ler muitas mensagens em Arbol. Depende muito do público. Da resposta do público com o que viu na tela. Pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar o interesse crescente das pessoas, das famílias, pela preservação. Mas basicamente, queria mostrar a relação do homem com a natureza.
Repórter: Percebi que neste filme não há diálogos, Por quê?
Diretor: Pela grandeza do tema, eu decidi fazer um filme que não possuísse um limite de idioma ou país. Arbol, tinha de ter uma narrativa e uma linguagem que fosse universal.
Reporter: Ok. Muito obrigado pela atenção que o senhor me deu e...
Diretor: Você. Me chame de você.
Reporter: (risos)
Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.
Estamos vendo a imagem do salão.
Ela é captada pelo olhar de pequeno cãozinho.
Perdido.
No meio do salão.
O vemos em perspectiva.
Parece um ser vivo agigantado.
Um aglomerado de vidas.
Vidas que se entrelaçam.
E essas vidas são pessoas.
De diferentes estilos.
Raças.
Cores.
Funcionam como um sem número de vasos sanguíneos.
Estendem-se nas mais recônditas extremidades do corpo.
Circulando o sangue do Salão.
Garapuvu.
É o nome dele.
Do salão.
O ser vivo agigantado, além de ter um nome, tem também um propósito.
Cinema.
Um festival de cinema.
Florianópolis Audiovisual Mercosul.
Também chamado de FAM.
O evento, quase um Colosso, traz mostra de filmes.
Curtos ou longos.
E estandes.
Também conhecidas como barraquinhas legais.
Várias delas.
De universidades.
E empresas de produção cinematográfica.
Ainda, como todo festival, reúne muita gente.
Pessoas de diversas cidades.
O FAM vai além das cidades.
Reúne pessoas de vários países.
Da América Latina.
Esse é o Décimo Quinto Festival.
Realizado em 2011 na Universidade federal de Santa Catarina.
UFSC.
Na verdade, no salão Garapuvu.
O cachorrinho volta a andar.
O nosso olhar escolhe um lugar com alta concentração de pessoas.
Luz forte.
Ajusta o foco.
Lenta e silenciosamente rumamos para essa direção.
Vemos um grupo de pessoas enfileiradas.
Estão ao redor de uma série de biombos.
Os biombos possuem pequenos cartazes colados.
Nosso ponto de vista de cachorro nos permite passar por entre as frestas entre as pessoas.
Guiamos o olhar para cima.
Vemos.
Um cartaz Vermelho.
No centro da cor carmesim temos uma pêra.
Ou talvez uma maçã.
Tem um furo ou recorte em forma de um losango rosado.
Ou avermelhado.
Nele, está escrito.
Contos Eróticos.
É um filme.
Ou foi.
Isso se você considerar o fato de ser antigo.
Nem precisava de título.
O cartaz sugere o óbvio.
Vemos.
Nossa ponte de vista de cachorro, que também é uma consciência livre, permite descobrirmos coisas que não deveríamos saber do local onde estamos.
O cartaz é uma das 27 peças expostas no FAM.
Foram criadas pelo artista carioca Fernando Pimenta.
O olhar se movimenta.
Mergulhamos num mar de falas, e luzes.
E portas.
Fechadas.
Um local movimentado.
Conhecido.
Parece uma área de diversão.
Não.
Errado.
Não é uma área de diversão.
Não apenas isso.
É o palco para o prato principal do FAM.
Um auditório.
É onde vai ter a mostra de curtas metragens do festival.
No caso extremamente específico do dia e momento em que nós aqui estamos, travestidos de pequeno cachorro, temos quatro filmes para ver.
Ou degustar.
E nem todos são brasileiros.
Apenas dois.
"Janela Molhada".
Sobre o resgate dos filmes mudos do Brasil.
E a estréia de "Mulher Azul".
Filme brasileiro gravado na França.
E temos outros dois estrangeiros.
Ou Mercosulizados.
Titanes.
Do Chile.
Sobre a ditadura militar nos anos 80 naquele país.
E Arbol.
Filme Argentino.
Sem falas.
E é sem falas que nos despedimos.
Deixamos o auditório para trás.
O Garapuvu vivo.
Nós deixamos nosso olhar de cachorro para o passado.
Voamos.
Para cima.
E de cima, observamos.
O ser vivo gigante.
O sangue que circula naquelas veias apaixonadas.
Por cinema.
Veias autênticas.
Veias latinas.
ENTREVISTA BATE E PRONTO!
No dia 29 de Junho, durante o 15º Florianópolis Audivisual do Mercosul... uma entrevista ao diretor do curta metragem argentino "Arbol", recém-exibido no festival!
Repórter: Senhor...
Diretor: Não me chame de senhor. Ainda sou muito novo para isso
(risos)
Repórter: Tudo bem! Desculpe! Mas... me fale um pouco sobre o filme.
Diretor: Bem... Arbol conta a história de um pai de família que está passando muito frio e ele precisa de lenha para aquecer a sua casa. Eles moram em uma casa bastante precária, no meio do nada. O pai tem receios de cortar a única árvore que restou na seca rigorosa. Acaba procurando alternativas para não cortar essa árvore. Consegue lenha cortando os móveis de madeira da casa, mas não quer cortar a árvore. É como se vivessem em um mundo apenas deles. Que apenas eles conhecessem. Gosto de dizer que é um tema grande em um filme pequeno. O tema da destruição ambiental.
Repórter: Hum... é como no livro brasileiro, Grande Sertão Veredas. O senhor...
Diretor: Você.
Reporter: ... Você conhece ou já leu?
Diretor: Conheço um pouco, mas nunca li.
Repórter: Nesse livro, tem uma frase que diz: O sertão está dentro da gente.
Diretor: É mais ou menos como o Arbol. A família carrega um pouco daquela árvore dentro de si.
Repórter: E qual foi o local usado para filmar?
Diretor: O curta foi filmado em Carlos Paz. É uma cidade muito próxima de Córdoba, na Argentina. São vizinhas.
Repórter: E o que o senho... você, pretendia com este filme? Tem uma mensagem?
Diretor: Podem-se ler muitas mensagens em Arbol. Depende muito do público. Da resposta do público com o que viu na tela. Pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar o interesse crescente das pessoas, das famílias, pela preservação. Mas basicamente, queria mostrar a relação do homem com a natureza.
Repórter: Percebi que neste filme não há diálogos, Por quê?
Diretor: Pela grandeza do tema, eu decidi fazer um filme que não possuísse um limite de idioma ou país. Arbol, tinha de ter uma narrativa e uma linguagem que fosse universal.
Reporter: Ok. Muito obrigado pela atenção que o senhor me deu e...
Diretor: Você. Me chame de você.
Reporter: (risos)
Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.
domingo, 4 de julho de 2010
CO-PRODUÇÕES E CINEMA BRASILEIRO
Camila Jardim
Acordos bilaterais com certos países e co-produções incentivam e ajudam a divulgar cinema brasileiro
No sétimo dia do Florianópolis Audiovisual Mercosul, a temática do Fórum da sala Aroeira, no centro de cultura e eventos da UFSC foi co-produções regionais e internacionais/internacionalização dos mercados. O argentino Alejandro Arroz, produtor e diretor da Pacs Producciones, Petrus Barreto, consultor jurídico, que foi o mediador do debate, e a renomada cineasta Assunção Hernandes, diretora da Raíz Produções, estiveram à frente da bancada do Fórum. Estudantes, cineastas brasileiros e estrangeiros, além de curiosos, formaram o público que compareceu de maneira participativa.
O Brasil possui, há alguns anos, diversos acordos internacionais para co-produções cinematográfica. Dentre eles, os mais antigos, destacam-se: Argentina, Espanha, Alemanha, Portugal, Canadá e alguns outros países latino-americanos. Curiosamente com o Uruguai, país vizinho, não há registros de acordos de nenhum tipo.
Participamos, como país membro, do Ibermedia, junto com outros 17 países integrantes. O Ibermedia, Fundo Ibero-americano, criado em novembro de 1997, tem por base as decisões adotadas pela Cimeira Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, celebrada em Margarita, Venezuela, relativas à execução de um programa de estímulo à co-produção de filmes para cinema e televisão. Infelizmente, apesar de funcionar há bastante tempo, esse acordo ainda não foi aprovado no congresso nacional, o que proporciona insegurança para os produtores brasileiros.
A burocracia brasileira, no momento de fechar um acordo para uma co-produção internacional, é exigente e complicada, podendo levar meses para a oficialização de todos os papéis necessários. A cineasta Assunção Hernandes acredita que os acordos entre países deveria ser feito através das intituições representantes, onde as produtoras estão legalmente registradas.
- Por exemplo, no Brasil, as produtoras brasileiras são registradas na Ancine e têm todos os seus documentos guardados lá. Só assim elas têm o direito de usar as tarjas oficiais, etc. E no caso dos outros países, seus próprios institutos que os representariam de alguma forma. O que eu acho é que deveria ficar a cargo de cada instituto assumir as responsabilidades da idoneidade ou não das empresas e suas existências, e não ficar exigindo que o parceiro de fora prove com documentos originais, firma reconhecida, cópia autenticada, consularizada, notarizada, trazendo custo, tanto para a produtora de fora, quanto para nós. Seria mais prático e economizaríamos tempo e dinheiro, afirma Assunção. O Brasil ainda é muito cartorial em todas as áreas, mas nessa área fica mais evidente e mais problemático esse problema, uma vez que os nossos parceiros lá de fora não exigem isso. Deveria haver uma reciprocidade, completa a cineasta.
A Galícia, estado da Espanha, possui acordo direto com o Brasil. Realiza um edital no qual são selecionados dois projetos de filmes majoritários brasileiros, e dois projetos de filmes majoritários galegos, e que receberão um benefício e investimento dos dois países. Esse acordo com a Galícia já funciona há uns três anos. “O interessante dos acordos diretos é a busca por histórias semelhantes e um projeto que contemple de alguma forma uma convivência e uma integração. No caso da Galícia, o Brasil tem mais originários galegos que o próprio estado espanhol. Galícia deve ter cinco milhões de pessoas, e o Brasil possui em torno de 12 milhões de descendentes. Costumamos brincar dizendo que aqui é o estado galego de maior população”, afirma a produtora.
Ainda sobre os acordos que relacionam o Brasil com outros países, a cineasta e fundadora da Raíz produções, desde 1974, Assunção Hernandes, respondeu algumas perguntas. Assunção faz parte do Conselho Consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema, é vice-presidente da FIPCA (Federação Ibero-americano de Produtores de Cinema e Audiovisual) e diretora para assuntos internacionais da ABEPC (Associação Brasileira de Empresas Produtoras de Cinema).
Para estabelecer uma co-produção com algum país que não possui acordo com o Brasil, qual procedimento é preciso ser tomado?
Nós temos dois tipos de co-produção. Um é um acordo entre países, governos. E outro é a co-produção entre países que não têm acordos entre si. Você pode fazer um contrato de produção com um país que não tem um acordo com o Brasil, mas para que o seu filme seja brasileiro precisa ter a participação de no mínimo 40% do orçamento do filme. Nesse caso a sua relação vai ser com o sindicato; significa que você tem que comprovar que nesta co-produção em que no caso não há acordo entre os países, há um mínimo determinado de técnicos e/ou atores brasileiros. A relação será sindical, cumprindo as exigências, as tarifas que você recolhe, percentuais ao pagamento de equipes e elencos externos no Brasil. Remete-se à agência de cinema e ao Ministério de Relações Exteriores somente para registrar e autorizar o trabalho de equipes estrangeiras no Brasil. Cumprindo o que está no acordo, a sua co-produção internacional com aquele país será oficializada.
Como fica a distribuição desses filmes co-produzidos?
Existe um edital chamado delivey, relativamente recente, que partiu da dificuldade da difusão dos filmes ibero-americanos no mundo, inclusive nos países onde o filme pronto pode receber 50% do orçamento que for apresentado para que seja distribuído no país do proponente e em outros países. Hoje se produzem muitos audiovisuais, mas a maior dificuldade é como fazer esses filmes circularem. Uma decisão importante tomada entre esses países é a de selecionar um número determinado de títulos, de filmes e dar um pequeno aporte para os produtores dos títulos que serão passados na televisão dos 18 países ibero-americanos.
Como você analisa o cenário cinematográfico brasileiro? Houve evolução significativa nas produções. Como o Brasil, na sua opinião, recebe esses filmes nacionais?
O maior problema que precisamos resolver agora é levar até os 90% da população brasileira, filmes independentes brasileiros que não tenham tido oportunidade de serem assistidos, porque não há salas em função de não haver acordos com grandes distribuidoras americanas. As salas que existem hoje no Brasil são extremamente caras para essa camada da população. Não achamos que temos a obrigação de levar os filmes para o povo, mas que todos têm o direito de ver o cinema brasileiro independente. A missão agora é fazer, ao lado de distribuidoras e autoridades, que esse caminho seja trilhado. A política pública de cinema tem que se preocupar com isso. E nós vamos ajudar a buscar essas respostas.
Cerca de 90% dos títulos dos filmes exibidos nas salas de cinema brasileiros não são falados em português; a sua maioria é em inglês, italiano, espanhol e francês. Há dificuldade da maior parte da população brasileira em assistir filmes legendados. A iniciativa e incentivo aos filmes brasileiros ainda é irrelevante no país.
Curiosidade
O senador Gerson Camata, por exemplo, começava as reuniões públicas, nas eleições passada, projetando um filme brasileiro. Essa medida sempre atraía uma multidão que logo depois ficava para presenciar seu discurso. Um certo dia, o senador, achando que seria do gosto do povo, levou uma grande produção americana para a reunião, em alguma praça do Brasil, e acabou provocando uma incomodação na platéia. Uma das pessoas que estava assistindo gritou de longe se podiam passar a legenda mais devagar. Mais uma vez isso prova que grande parte dos brasileiros não se beneficia dos filmes estrangeiros com legenda que estão no cinema. Somente 9% da população brasileira, classe A e B vão as 2.300 salas de cinema multiplex, dominantes no país. O malefício dessa desigualdade cultural acaba prejudicando todos os brasileiros por falta de salas e das emissoras televisivas, que preferem fazer grandes acordos com filmes norte-americanos.
Acordos bilaterais com certos países e co-produções incentivam e ajudam a divulgar cinema brasileiro
No sétimo dia do Florianópolis Audiovisual Mercosul, a temática do Fórum da sala Aroeira, no centro de cultura e eventos da UFSC foi co-produções regionais e internacionais/internacionalização dos mercados. O argentino Alejandro Arroz, produtor e diretor da Pacs Producciones, Petrus Barreto, consultor jurídico, que foi o mediador do debate, e a renomada cineasta Assunção Hernandes, diretora da Raíz Produções, estiveram à frente da bancada do Fórum. Estudantes, cineastas brasileiros e estrangeiros, além de curiosos, formaram o público que compareceu de maneira participativa.
O Brasil possui, há alguns anos, diversos acordos internacionais para co-produções cinematográfica. Dentre eles, os mais antigos, destacam-se: Argentina, Espanha, Alemanha, Portugal, Canadá e alguns outros países latino-americanos. Curiosamente com o Uruguai, país vizinho, não há registros de acordos de nenhum tipo.
Participamos, como país membro, do Ibermedia, junto com outros 17 países integrantes. O Ibermedia, Fundo Ibero-americano, criado em novembro de 1997, tem por base as decisões adotadas pela Cimeira Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo, celebrada em Margarita, Venezuela, relativas à execução de um programa de estímulo à co-produção de filmes para cinema e televisão. Infelizmente, apesar de funcionar há bastante tempo, esse acordo ainda não foi aprovado no congresso nacional, o que proporciona insegurança para os produtores brasileiros.
A burocracia brasileira, no momento de fechar um acordo para uma co-produção internacional, é exigente e complicada, podendo levar meses para a oficialização de todos os papéis necessários. A cineasta Assunção Hernandes acredita que os acordos entre países deveria ser feito através das intituições representantes, onde as produtoras estão legalmente registradas.
- Por exemplo, no Brasil, as produtoras brasileiras são registradas na Ancine e têm todos os seus documentos guardados lá. Só assim elas têm o direito de usar as tarjas oficiais, etc. E no caso dos outros países, seus próprios institutos que os representariam de alguma forma. O que eu acho é que deveria ficar a cargo de cada instituto assumir as responsabilidades da idoneidade ou não das empresas e suas existências, e não ficar exigindo que o parceiro de fora prove com documentos originais, firma reconhecida, cópia autenticada, consularizada, notarizada, trazendo custo, tanto para a produtora de fora, quanto para nós. Seria mais prático e economizaríamos tempo e dinheiro, afirma Assunção. O Brasil ainda é muito cartorial em todas as áreas, mas nessa área fica mais evidente e mais problemático esse problema, uma vez que os nossos parceiros lá de fora não exigem isso. Deveria haver uma reciprocidade, completa a cineasta.
A Galícia, estado da Espanha, possui acordo direto com o Brasil. Realiza um edital no qual são selecionados dois projetos de filmes majoritários brasileiros, e dois projetos de filmes majoritários galegos, e que receberão um benefício e investimento dos dois países. Esse acordo com a Galícia já funciona há uns três anos. “O interessante dos acordos diretos é a busca por histórias semelhantes e um projeto que contemple de alguma forma uma convivência e uma integração. No caso da Galícia, o Brasil tem mais originários galegos que o próprio estado espanhol. Galícia deve ter cinco milhões de pessoas, e o Brasil possui em torno de 12 milhões de descendentes. Costumamos brincar dizendo que aqui é o estado galego de maior população”, afirma a produtora.
Ainda sobre os acordos que relacionam o Brasil com outros países, a cineasta e fundadora da Raíz produções, desde 1974, Assunção Hernandes, respondeu algumas perguntas. Assunção faz parte do Conselho Consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema, é vice-presidente da FIPCA (Federação Ibero-americano de Produtores de Cinema e Audiovisual) e diretora para assuntos internacionais da ABEPC (Associação Brasileira de Empresas Produtoras de Cinema).
Para estabelecer uma co-produção com algum país que não possui acordo com o Brasil, qual procedimento é preciso ser tomado?
Nós temos dois tipos de co-produção. Um é um acordo entre países, governos. E outro é a co-produção entre países que não têm acordos entre si. Você pode fazer um contrato de produção com um país que não tem um acordo com o Brasil, mas para que o seu filme seja brasileiro precisa ter a participação de no mínimo 40% do orçamento do filme. Nesse caso a sua relação vai ser com o sindicato; significa que você tem que comprovar que nesta co-produção em que no caso não há acordo entre os países, há um mínimo determinado de técnicos e/ou atores brasileiros. A relação será sindical, cumprindo as exigências, as tarifas que você recolhe, percentuais ao pagamento de equipes e elencos externos no Brasil. Remete-se à agência de cinema e ao Ministério de Relações Exteriores somente para registrar e autorizar o trabalho de equipes estrangeiras no Brasil. Cumprindo o que está no acordo, a sua co-produção internacional com aquele país será oficializada.
Como fica a distribuição desses filmes co-produzidos?
Existe um edital chamado delivey, relativamente recente, que partiu da dificuldade da difusão dos filmes ibero-americanos no mundo, inclusive nos países onde o filme pronto pode receber 50% do orçamento que for apresentado para que seja distribuído no país do proponente e em outros países. Hoje se produzem muitos audiovisuais, mas a maior dificuldade é como fazer esses filmes circularem. Uma decisão importante tomada entre esses países é a de selecionar um número determinado de títulos, de filmes e dar um pequeno aporte para os produtores dos títulos que serão passados na televisão dos 18 países ibero-americanos.
Como você analisa o cenário cinematográfico brasileiro? Houve evolução significativa nas produções. Como o Brasil, na sua opinião, recebe esses filmes nacionais?
O maior problema que precisamos resolver agora é levar até os 90% da população brasileira, filmes independentes brasileiros que não tenham tido oportunidade de serem assistidos, porque não há salas em função de não haver acordos com grandes distribuidoras americanas. As salas que existem hoje no Brasil são extremamente caras para essa camada da população. Não achamos que temos a obrigação de levar os filmes para o povo, mas que todos têm o direito de ver o cinema brasileiro independente. A missão agora é fazer, ao lado de distribuidoras e autoridades, que esse caminho seja trilhado. A política pública de cinema tem que se preocupar com isso. E nós vamos ajudar a buscar essas respostas.
Cerca de 90% dos títulos dos filmes exibidos nas salas de cinema brasileiros não são falados em português; a sua maioria é em inglês, italiano, espanhol e francês. Há dificuldade da maior parte da população brasileira em assistir filmes legendados. A iniciativa e incentivo aos filmes brasileiros ainda é irrelevante no país.
Curiosidade
O senador Gerson Camata, por exemplo, começava as reuniões públicas, nas eleições passada, projetando um filme brasileiro. Essa medida sempre atraía uma multidão que logo depois ficava para presenciar seu discurso. Um certo dia, o senador, achando que seria do gosto do povo, levou uma grande produção americana para a reunião, em alguma praça do Brasil, e acabou provocando uma incomodação na platéia. Uma das pessoas que estava assistindo gritou de longe se podiam passar a legenda mais devagar. Mais uma vez isso prova que grande parte dos brasileiros não se beneficia dos filmes estrangeiros com legenda que estão no cinema. Somente 9% da população brasileira, classe A e B vão as 2.300 salas de cinema multiplex, dominantes no país. O malefício dessa desigualdade cultural acaba prejudicando todos os brasileiros por falta de salas e das emissoras televisivas, que preferem fazer grandes acordos com filmes norte-americanos.
Marcadores:
brasileiro,
Camila,
Cinema de Bairro,
Cultura,
FAM,
materia,
recursos
domingo, 27 de junho de 2010
Segundo plano e sem foco
Poucas salas alternativas, mercado “americanizado” e recursos limitados dificultam o desenvolvimento de projetos independentes no cinema catarinense
Felipe Reis
O número é impressionante: apenas 8% das cidades brasileiras têm alguma sala de cinema. E instaladas dentro de shoppings centers. A constatação é dos próprios produtores culturais, principalmente ligados ao circuito alternativo, independente ou não-comercial. A escassez permite, cada vez mais, relegar a sétima arte ao segundo plano no cenário cultural do Brasil.
Em Santa Catarina o problema também existe. No interior do Estado, faltam espaços onde as produções possam ser exibidas. No litoral e na Capital, mais especificamente, empresas especializadas na montagem e operação de salas mantêm redes de dimensões continentais e focam, cada vez mais, na produção comercial. Filmes como Avatar, Se eu fosse você e Tropa de Elite estão entre os preferidos dos empresários e investidores. Os primeiros se interessam pela bilheteria que grandes cartazes podem arrecadar. Os segundos, na associação marqueteira dos seus nomes a verdadeiras febres midiáticas.
“Os maiores nomes do cinema nacional em 2008 e 2009 só obtiveram liderança em distribuição, exibição e bilheteria por terem apelo social, mas ainda assim ligado ao viés mercadológico. São tramas verossímeis para a população e por isso os produtores não têm dificuldade em obter patrocínio”, revela o produtor e professor de cinema da Universidade de São Carlos, João Massarolo. Essa consciência faz com que os produtores independentes saibam que fazem parte de um “gueto” onde as idéias tradicionais costumeiramente são deixadas de lado, mas os investimentos também demoram mais para chegar.
Parte dessa espécie de exclusão decorre justamente da pouca capilaridade das salas. Como no país não há uma legislação que obrigue as emissoras a cederem parte do tempo da programação diária ou semanal para a exibição dos trabalhos cinematográficos, o conteúdo fica restrito a espaços alternativos. “O cinema tem como ‘fazer acontecer’ os filmes não-comerciais através de ações inovadoras, que têm amplo apoio e repercussão em novos formatos”, diz Bhig Villas-Boas, representante da Santa Cine e membro do conselho consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema. “Recentemente uma marca de refrigerantes lançou um filme independente dentro de uma campanha publicitária, através de pequenas pílulas. Destacou o produto, destacou a marca dos apoiadores”.
Enquanto as novas mídias não são totalmente exploradas para a disseminação dos conteúdos independentes do cinema, as produções contam com pequenos e raros apoios de emissoras de TV. Em Santa Catarina, uma das janelas – o SC em Cena – ocupa um espaço de 15 minutos aos sábados, apenas uma vez por semana. Fora isso, quase nada. Outra iniciativa fora da mídia tradicional foi o Cine York, que por dez anos funcionou na cidade de São José, na Grande Florianópolis. A sala trazia os lançamentos de produtores de várias partes do mundo e que não estavam no circuito comercial, oferecia produções muito mais artísticas do que as de costume e fomentava debates acerca do desenvolvimento desse segmento. Mas o espaço foi fechado em 2008 e restou apenas o Cine Clube Desterro, no Centro Integrado de Cultura.
Mas fatos como esse não são vistos como um sinal de alerta pelos responsáveis pela cultura no Governo do Estado. Diretor geral da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Gilberto Savedra vê que as produções não devem depender só de festivais, mas contam com “diversos recursos” para serem filmadas, montadas e distribuídas. “Só para este ano o governo vai liberar R$ 1,9 milhão pelo Edital Catarinense de Cinema (antiga Cinemateca)”. Ele acredita ser “muito dinheiro”, mas, como os produtores, estende o pires e passa a responsabilidade ao Governo Federal. De fato o apoio de instâncias superiores pode contribuir para desenvolver o segmento, mas ações locais poderiam incrementaá-lo ainda mais.
“Nós já estamos acostumados” – diz o produtor Chico Faganello. “As produções internacionais ou nacionais com grande orçamento chamam a atenção dos eventuais patrocinadores, que preferem colocar o dinheiro num filme que vai ser exibido em todo o Brasil do que em outro, cuja chance de isso acontecer é menor”. Chico sabe também da trama que há por trás de todo o mercado cinematográfico, dentro e fora do país: “A maior parte dos grandes sucessos só é filmada depois de já ter um contrato de distribuição e exibição assinado”.
Tais constatações deveriam desestimular quem pretende viver – ou apenas produzir – o cinema em Santa Catarina, mas felizmente isso não acontece. Enquanto isso, os envolvidos aproveitam os espaços onde esse tipo de debate é viável. Um deles, o 14º Florianópolis Audiovisual do MERCOSUL, permite a troca de visões e perspectivas. A boa notícia é que a credibilidade e importância do evento já começam a introduzir a Capital e o Estado na rota internacional de recursos, desviando o foco do já tradicional, comercial e enriquecido eixo Rio-São Paulo.
Felipe Reis
O número é impressionante: apenas 8% das cidades brasileiras têm alguma sala de cinema. E instaladas dentro de shoppings centers. A constatação é dos próprios produtores culturais, principalmente ligados ao circuito alternativo, independente ou não-comercial. A escassez permite, cada vez mais, relegar a sétima arte ao segundo plano no cenário cultural do Brasil.
Em Santa Catarina o problema também existe. No interior do Estado, faltam espaços onde as produções possam ser exibidas. No litoral e na Capital, mais especificamente, empresas especializadas na montagem e operação de salas mantêm redes de dimensões continentais e focam, cada vez mais, na produção comercial. Filmes como Avatar, Se eu fosse você e Tropa de Elite estão entre os preferidos dos empresários e investidores. Os primeiros se interessam pela bilheteria que grandes cartazes podem arrecadar. Os segundos, na associação marqueteira dos seus nomes a verdadeiras febres midiáticas.
“Os maiores nomes do cinema nacional em 2008 e 2009 só obtiveram liderança em distribuição, exibição e bilheteria por terem apelo social, mas ainda assim ligado ao viés mercadológico. São tramas verossímeis para a população e por isso os produtores não têm dificuldade em obter patrocínio”, revela o produtor e professor de cinema da Universidade de São Carlos, João Massarolo. Essa consciência faz com que os produtores independentes saibam que fazem parte de um “gueto” onde as idéias tradicionais costumeiramente são deixadas de lado, mas os investimentos também demoram mais para chegar.
Parte dessa espécie de exclusão decorre justamente da pouca capilaridade das salas. Como no país não há uma legislação que obrigue as emissoras a cederem parte do tempo da programação diária ou semanal para a exibição dos trabalhos cinematográficos, o conteúdo fica restrito a espaços alternativos. “O cinema tem como ‘fazer acontecer’ os filmes não-comerciais através de ações inovadoras, que têm amplo apoio e repercussão em novos formatos”, diz Bhig Villas-Boas, representante da Santa Cine e membro do conselho consultivo do Congresso Brasileiro de Cinema. “Recentemente uma marca de refrigerantes lançou um filme independente dentro de uma campanha publicitária, através de pequenas pílulas. Destacou o produto, destacou a marca dos apoiadores”.
Enquanto as novas mídias não são totalmente exploradas para a disseminação dos conteúdos independentes do cinema, as produções contam com pequenos e raros apoios de emissoras de TV. Em Santa Catarina, uma das janelas – o SC em Cena – ocupa um espaço de 15 minutos aos sábados, apenas uma vez por semana. Fora isso, quase nada. Outra iniciativa fora da mídia tradicional foi o Cine York, que por dez anos funcionou na cidade de São José, na Grande Florianópolis. A sala trazia os lançamentos de produtores de várias partes do mundo e que não estavam no circuito comercial, oferecia produções muito mais artísticas do que as de costume e fomentava debates acerca do desenvolvimento desse segmento. Mas o espaço foi fechado em 2008 e restou apenas o Cine Clube Desterro, no Centro Integrado de Cultura.
Mas fatos como esse não são vistos como um sinal de alerta pelos responsáveis pela cultura no Governo do Estado. Diretor geral da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, Gilberto Savedra vê que as produções não devem depender só de festivais, mas contam com “diversos recursos” para serem filmadas, montadas e distribuídas. “Só para este ano o governo vai liberar R$ 1,9 milhão pelo Edital Catarinense de Cinema (antiga Cinemateca)”. Ele acredita ser “muito dinheiro”, mas, como os produtores, estende o pires e passa a responsabilidade ao Governo Federal. De fato o apoio de instâncias superiores pode contribuir para desenvolver o segmento, mas ações locais poderiam incrementaá-lo ainda mais.
“Nós já estamos acostumados” – diz o produtor Chico Faganello. “As produções internacionais ou nacionais com grande orçamento chamam a atenção dos eventuais patrocinadores, que preferem colocar o dinheiro num filme que vai ser exibido em todo o Brasil do que em outro, cuja chance de isso acontecer é menor”. Chico sabe também da trama que há por trás de todo o mercado cinematográfico, dentro e fora do país: “A maior parte dos grandes sucessos só é filmada depois de já ter um contrato de distribuição e exibição assinado”.
Tais constatações deveriam desestimular quem pretende viver – ou apenas produzir – o cinema em Santa Catarina, mas felizmente isso não acontece. Enquanto isso, os envolvidos aproveitam os espaços onde esse tipo de debate é viável. Um deles, o 14º Florianópolis Audiovisual do MERCOSUL, permite a troca de visões e perspectivas. A boa notícia é que a credibilidade e importância do evento já começam a introduzir a Capital e o Estado na rota internacional de recursos, desviando o foco do já tradicional, comercial e enriquecido eixo Rio-São Paulo.
terça-feira, 22 de junho de 2010
“As melhores coisas do mundo”
por Mouriel Lanza
Mesmo sendo uma manhã de sexta-feira chuvosa em Florianópolis, a sala de exibição de filmes do FAM estava praticamente lotada. O filme exibido foi o recém lançado “As melhores coisas do mundo”, da diretora Laís Bodanski.
Foi um filme surpreendente, no qual de maneira muito singular a diretora consegue tratar o tema de uma forma que deixa o expectador vidrado e ansioso para as próximas cenas.
O filme fala a respeito de um jovem adolescente de 15 anos que vive todos os conflitos da adolescência. Sua primeira transa, os conflitos na escola, a descoberta do amor. Mostra de uma forma muito natural os problemas comuns que todo mundo tem no seu dia a dia.
Mano é apaixonado por música, gosta de ficar com as meninas e estar com seus amigos. Ele mora com a sua mãe e seu irmão. Seus pais são separados, e um dos principais conflitos que ele teve que enfrentar foi referente à descoberta dos seus colegas de escola, sobre a homossexualidade de seu pai.
Mano é agredido pelos colegas, é discriminado e sofre preconceito, mas de uma maneira muito matura ele consegue enfrentar esse problema de frente e busca junto aos seus amigos propor na chapa do grêmio alternativas para lidar com esse tipo de atitude de seus colegas.
Paralelo a isso, seu irmão Pedro leva um fora de sua namorada e entra numa grande depressão. Sua família fica preocupada com seu estado emocional, mas não leva muito a sério seu sofrimento, até o momento em que ele tenta o suicídio.
Com isso, Mano consegue perceber como é difícil se tornar adulto, como são complicados os problemas do dia a dia, mas sabe que sempre existem maneiras para ser feliz. Um filme emocionante e com uma belíssima produção, que vale muito a pena conferir.
Mesmo sendo uma manhã de sexta-feira chuvosa em Florianópolis, a sala de exibição de filmes do FAM estava praticamente lotada. O filme exibido foi o recém lançado “As melhores coisas do mundo”, da diretora Laís Bodanski.
Foi um filme surpreendente, no qual de maneira muito singular a diretora consegue tratar o tema de uma forma que deixa o expectador vidrado e ansioso para as próximas cenas.
O filme fala a respeito de um jovem adolescente de 15 anos que vive todos os conflitos da adolescência. Sua primeira transa, os conflitos na escola, a descoberta do amor. Mostra de uma forma muito natural os problemas comuns que todo mundo tem no seu dia a dia.
Mano é apaixonado por música, gosta de ficar com as meninas e estar com seus amigos. Ele mora com a sua mãe e seu irmão. Seus pais são separados, e um dos principais conflitos que ele teve que enfrentar foi referente à descoberta dos seus colegas de escola, sobre a homossexualidade de seu pai.
Mano é agredido pelos colegas, é discriminado e sofre preconceito, mas de uma maneira muito matura ele consegue enfrentar esse problema de frente e busca junto aos seus amigos propor na chapa do grêmio alternativas para lidar com esse tipo de atitude de seus colegas.
Paralelo a isso, seu irmão Pedro leva um fora de sua namorada e entra numa grande depressão. Sua família fica preocupada com seu estado emocional, mas não leva muito a sério seu sofrimento, até o momento em que ele tenta o suicídio.
Com isso, Mano consegue perceber como é difícil se tornar adulto, como são complicados os problemas do dia a dia, mas sabe que sempre existem maneiras para ser feliz. Um filme emocionante e com uma belíssima produção, que vale muito a pena conferir.
Economia da Cultura é discutida no FAM
Por Laís Campos Moser
Refletir sobre as questões que envolvem o mercado cinematográfico e também o de outras manifestações culturais como música, arte, literatura etc., passa também pela discussão da economia da cultura. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Leandro Valiati, um dos organizadores do livro Economia da Cultura: bem-estar econômico e evolução cultural, esteve presente no 14º Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) pontuando o assunto.
Para Valiati confunde-se muito no país instrumento de política pública com a própria política pública: “Lei de Incentivo, Lei Rouanet, Lei do Audiovisual são instrumentos válidos, importantes, mas não podem ser a política de Estado”, ressaltou.
O economista acredita que o Brasil é um mercado em potencial para o consumo da cultura, já que no último trimestre o país cresceu 9%, uma taxa comparada à da economia chinesa. “As pessoas estão com mais renda, com mais dinheiro para consumir cultura”, afirmou. Entretanto, o país remete ao mercado exterior quase um bilhão de reais por ano em royalties de filmes estrangeiros que aqui são exibidos: “E isso é dinheiro nosso. Percebe-se a diferença entre o que foi enviado de remessa para fora e o que voltou dos nossos produtos culturais. É um déficit absurdo, que não tem comparação, de mais de 2000%. Em um país absolutamente rico em diversidade cultural, é um baita potencial jogado fora”, afirmou Leandro Valiati.
Refletir sobre as questões que envolvem o mercado cinematográfico e também o de outras manifestações culturais como música, arte, literatura etc., passa também pela discussão da economia da cultura. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Leandro Valiati, um dos organizadores do livro Economia da Cultura: bem-estar econômico e evolução cultural, esteve presente no 14º Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) pontuando o assunto.
Para Valiati confunde-se muito no país instrumento de política pública com a própria política pública: “Lei de Incentivo, Lei Rouanet, Lei do Audiovisual são instrumentos válidos, importantes, mas não podem ser a política de Estado”, ressaltou.
O economista acredita que o Brasil é um mercado em potencial para o consumo da cultura, já que no último trimestre o país cresceu 9%, uma taxa comparada à da economia chinesa. “As pessoas estão com mais renda, com mais dinheiro para consumir cultura”, afirmou. Entretanto, o país remete ao mercado exterior quase um bilhão de reais por ano em royalties de filmes estrangeiros que aqui são exibidos: “E isso é dinheiro nosso. Percebe-se a diferença entre o que foi enviado de remessa para fora e o que voltou dos nossos produtos culturais. É um déficit absurdo, que não tem comparação, de mais de 2000%. Em um país absolutamente rico em diversidade cultural, é um baita potencial jogado fora”, afirmou Leandro Valiati.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Encontro das Film Comissions termina com resultado positivo
por Carlos Eduardo Duarte
Junto ao Fam e todos os filmes e debates e fóruns e tudo mais que rolou nesses últimos dias na Ufsc, uma discussão importante para os “fazedores de cinema também estava em pauta. Era o I Encontro de Film Comissions da América Latina, que aconteceu no hotel Maria do Mar, no dia 11, 12 e 13 de junho.
O que é uma Film Commission?
As film comissions servem como facilitador para produções audiovisuais. Elas existem em todo o mundo e ditam as regras e os mecanismos necessários para uma produção. Promovem e divulgam a região em que será filmado o projeto servindo como órgão incentivador para o desenvolvimento da infraestrutura que as regiões possuem. Serve como um olheiro, que busca lugares propícios, de paisagem, facilidade de acesso. São instituições sem fins lucrativos, constituída pelo poder público federal, estadual e municipal e por entidades representativas do setor de turismo e cultura.
Essas possibilidades de negócios foram discutidas por vários países da América Latina como México, Chile, Argentina e Panamá. A idéia de “intercâmbio sem fronteira”, facilidades para coproduções internacionais e estratégias para impulsionar o crescimento e desenvolvimento da indústria e do turismo audiovisual na América Latina.
Mário Parente, coordenador de relações do Mercosul, resumiu o evento como “altamente positivo”. Para ele, a participação das comissões de outros países latino-americanos engrandeceu ainda mais o evento servindo como meio incentivador para criação de uma Film Comission aqui no estado.
A idéia é que o evento se repita anualmente, assim como o FAM, e que possa ser uma linha de apoio para continuar com uma política de desenvolvimento nessa troca de experiências, entre film comissions privadas e públicas. “A construção de uma linha de trabalho para consolidar mais um passo das produções audiovisuais é importante para que outras cidades se interessem e outras comissões sejam criadas”, conclui Parente.
Produções audiovisuais são sucesso no FAM
Os curtas da segunda feira, 14, foram do repente ao apagão da Ilha de Santa Catarina com o curta Blackout. Mas o que chamou mais a atenção dos espectadores foi o curta Bailão apresentado através de depoimentos de senhores homossexuais. No Bailão eles poderiam ser eles mesmos, com seus trejeitos, suas vontades seus desejos mais íntimos.
Em quase 17 minutos de curta, Marcelo Caetano o diretor do documentário Bailão, se uniu a senhores homossexuais sedentos por liberdade e vida, para mostrar a história de uma boate gay, que recebia pessoas de todos os tipos, todas as raças, mas principalmente coroas com urgência de vida, como o próprio diretor define em seu enredo.
Essa urgência, causada pela vida escondida atrás de máscaras masculinas e de um medo social de exclusão e repressão, causa, na melhor das palavras, um estranhamento, unido a uma alegria e um sentimento de alívio tanto de quem assiste como de quem vive aquele drama.
O local das histórias é o Bailão, boate escura com dançarinos abraçados ou encostados no bar. As imagens são de realização. Quando sai da Boate, a câmera já mostra o outro lado. O da solidão. Dá para pensar então que o bailão é o refúgio e que esse refúgio é uma outra vida, a tão sonhada, a do antes tarde do que nunca.
Junto ao Fam e todos os filmes e debates e fóruns e tudo mais que rolou nesses últimos dias na Ufsc, uma discussão importante para os “fazedores de cinema também estava em pauta. Era o I Encontro de Film Comissions da América Latina, que aconteceu no hotel Maria do Mar, no dia 11, 12 e 13 de junho.
O que é uma Film Commission?
As film comissions servem como facilitador para produções audiovisuais. Elas existem em todo o mundo e ditam as regras e os mecanismos necessários para uma produção. Promovem e divulgam a região em que será filmado o projeto servindo como órgão incentivador para o desenvolvimento da infraestrutura que as regiões possuem. Serve como um olheiro, que busca lugares propícios, de paisagem, facilidade de acesso. São instituições sem fins lucrativos, constituída pelo poder público federal, estadual e municipal e por entidades representativas do setor de turismo e cultura.
Essas possibilidades de negócios foram discutidas por vários países da América Latina como México, Chile, Argentina e Panamá. A idéia de “intercâmbio sem fronteira”, facilidades para coproduções internacionais e estratégias para impulsionar o crescimento e desenvolvimento da indústria e do turismo audiovisual na América Latina.
Mário Parente, coordenador de relações do Mercosul, resumiu o evento como “altamente positivo”. Para ele, a participação das comissões de outros países latino-americanos engrandeceu ainda mais o evento servindo como meio incentivador para criação de uma Film Comission aqui no estado.
A idéia é que o evento se repita anualmente, assim como o FAM, e que possa ser uma linha de apoio para continuar com uma política de desenvolvimento nessa troca de experiências, entre film comissions privadas e públicas. “A construção de uma linha de trabalho para consolidar mais um passo das produções audiovisuais é importante para que outras cidades se interessem e outras comissões sejam criadas”, conclui Parente.
Produções audiovisuais são sucesso no FAM
Os curtas da segunda feira, 14, foram do repente ao apagão da Ilha de Santa Catarina com o curta Blackout. Mas o que chamou mais a atenção dos espectadores foi o curta Bailão apresentado através de depoimentos de senhores homossexuais. No Bailão eles poderiam ser eles mesmos, com seus trejeitos, suas vontades seus desejos mais íntimos.
Em quase 17 minutos de curta, Marcelo Caetano o diretor do documentário Bailão, se uniu a senhores homossexuais sedentos por liberdade e vida, para mostrar a história de uma boate gay, que recebia pessoas de todos os tipos, todas as raças, mas principalmente coroas com urgência de vida, como o próprio diretor define em seu enredo.
Essa urgência, causada pela vida escondida atrás de máscaras masculinas e de um medo social de exclusão e repressão, causa, na melhor das palavras, um estranhamento, unido a uma alegria e um sentimento de alívio tanto de quem assiste como de quem vive aquele drama.
O local das histórias é o Bailão, boate escura com dançarinos abraçados ou encostados no bar. As imagens são de realização. Quando sai da Boate, a câmera já mostra o outro lado. O da solidão. Dá para pensar então que o bailão é o refúgio e que esse refúgio é uma outra vida, a tão sonhada, a do antes tarde do que nunca.
Assinar:
Postagens (Atom)