sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nossos Olhos de Cachorro Abandonado

Por Tomaz Lucas Alves - acadêmico de Jornalismo da Unisul

Estamos vendo a imagem do salão.
Ela é captada pelo olhar de pequeno cãozinho.
Perdido.
No meio do salão.
O vemos em perspectiva.
Parece um ser vivo agigantado.
Um aglomerado de vidas.
Vidas que se entrelaçam.
E essas vidas são pessoas.
De diferentes estilos.
Raças.
Cores.
Funcionam como um sem número de vasos sanguíneos.
Estendem-se nas mais recônditas extremidades do corpo.
Circulando o sangue do Salão.
Garapuvu.
É o nome dele.
Do salão.
O ser vivo agigantado, além de ter um nome, tem também um propósito.
Cinema.
Um festival de cinema.
Florianópolis Audiovisual Mercosul.
Também chamado de FAM.
O evento, quase um Colosso, traz mostra de filmes.
Curtos ou longos.
E estandes.
Também conhecidas como barraquinhas legais.
Várias delas.
De universidades.
E empresas de produção cinematográfica.
Ainda, como todo festival, reúne muita gente.
Pessoas de diversas cidades.
O FAM vai além das cidades.
Reúne pessoas de vários países.
Da América Latina.
Esse é o Décimo Quinto Festival.
Realizado em 2011 na Universidade federal de Santa Catarina.
UFSC.
Na verdade, no salão Garapuvu.
O cachorrinho volta a andar.
O nosso olhar escolhe um lugar com alta concentração de pessoas.
Luz forte.
Ajusta o foco.
Lenta e silenciosamente rumamos para essa direção.
Vemos um grupo de pessoas enfileiradas.
Estão ao redor de uma série de biombos.
Os biombos possuem pequenos cartazes colados.
Nosso ponto de vista de cachorro nos permite passar por entre as frestas entre as pessoas.
Guiamos o olhar para cima.
Vemos.
Um cartaz Vermelho.
No centro da cor carmesim temos uma pêra.
Ou talvez uma maçã.
Tem um furo ou recorte em forma de um losango rosado.
Ou avermelhado.
Nele, está escrito.
Contos Eróticos.
É um filme.
Ou foi.
Isso se você considerar o fato de ser antigo.
Nem precisava de título.
O cartaz sugere o óbvio.
Vemos.
Nossa ponte de vista de cachorro, que também é uma consciência livre, permite descobrirmos coisas que não deveríamos saber do local onde estamos.
O cartaz é uma das 27 peças expostas no FAM.
Foram criadas pelo artista carioca Fernando Pimenta.
O olhar se movimenta.
Mergulhamos num mar de falas, e luzes.
E portas.
Fechadas.
Um local movimentado.
Conhecido.
Parece uma área de diversão.
Não.
Errado.
Não é uma área de diversão.
Não apenas isso.
É o palco para o prato principal do FAM.
Um auditório.
É onde vai ter a mostra de curtas metragens do festival.
No caso extremamente específico do dia e momento em que nós aqui estamos, travestidos de pequeno cachorro, temos quatro filmes para ver.
Ou degustar.
E nem todos são brasileiros.
Apenas dois.
"Janela Molhada".
Sobre o resgate dos filmes mudos do Brasil.
E a estréia de "Mulher Azul".
Filme brasileiro gravado na França.
E temos outros dois estrangeiros.
Ou Mercosulizados.
Titanes.
Do Chile.
Sobre a ditadura militar nos anos 80 naquele país.
E Arbol.
Filme Argentino.
Sem falas.
E é sem falas que nos despedimos.
Deixamos o auditório para trás.
O Garapuvu vivo.
Nós deixamos nosso olhar de cachorro para o passado.
Voamos.
Para cima.
E de cima, observamos.
O ser vivo gigante.
O sangue que circula naquelas veias apaixonadas.
Por cinema.
Veias autênticas.
Veias latinas.


ENTREVISTA BATE E PRONTO!

No dia 29 de Junho, durante o 15º Florianópolis Audivisual do Mercosul... uma entrevista ao diretor do curta metragem argentino "Arbol", recém-exibido no festival!

Repórter: Senhor...
Diretor: Não me chame de senhor. Ainda sou muito novo para isso

(risos)

Repórter: Tudo bem! Desculpe! Mas... me fale um pouco sobre o filme.
Diretor: Bem... Arbol conta a história de um pai de família que está passando muito frio e ele precisa de lenha para aquecer a sua casa. Eles moram em uma casa bastante precária, no meio do nada. O pai tem receios de cortar a única árvore que restou na seca rigorosa. Acaba procurando alternativas para não cortar essa árvore. Consegue lenha cortando os móveis de madeira da casa, mas não quer cortar a árvore. É como se vivessem em um mundo apenas deles. Que apenas eles conhecessem. Gosto de dizer que é um tema grande em um filme pequeno. O tema da destruição ambiental.
Repórter: Hum... é como no livro brasileiro, Grande Sertão Veredas. O senhor...
Diretor: Você.
Reporter: ... Você conhece ou já leu?
Diretor: Conheço um pouco, mas nunca li.
Repórter: Nesse livro, tem uma frase que diz: O sertão está dentro da gente.
Diretor: É mais ou menos como o Arbol. A família carrega um pouco daquela árvore dentro de si.
Repórter: E qual foi o local usado para filmar?
Diretor: O curta foi filmado em Carlos Paz. É uma cidade muito próxima de Córdoba, na Argentina. São vizinhas.
Repórter: E o que o senho... você, pretendia com este filme? Tem uma mensagem?
Diretor: Podem-se ler muitas mensagens em Arbol. Depende muito do público. Da resposta do público com o que viu na tela. Pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar o interesse crescente das pessoas, das famílias, pela preservação. Mas basicamente, queria mostrar a relação do homem com a natureza.
Repórter: Percebi que neste filme não há diálogos, Por quê?
Diretor: Pela grandeza do tema, eu decidi fazer um filme que não possuísse um limite de idioma ou país. Arbol, tinha de ter uma narrativa e uma linguagem que fosse universal.
Reporter: Ok. Muito obrigado pela atenção que o senhor me deu e...
Diretor: Você. Me chame de você.
Reporter: (risos)


Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.

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