sábado, 2 de julho de 2011

Dupla Catarinense de A antropóloga lança Curta do FAM 2011

Texto poético de Renato Tapado se transforma em inspiração para a produção de Filme 

Por Kelli Pierini - acadêmica de Jornalismo na Unisul

O texto Mulher Azul de Renato Tapado foi adaptado e se transformou em um curta-metragem de Maria Emília e Zeca Pires, a mesma dupla responsável pela produção do longa-metragem A Antropóloga, lançado este ano nos cinemas. Mulher Azul foi estreado no Festival Audiovisual Mercosul FAM, que neste ano completa a sua 15ª edição.

O FAM foi criado para discutir as políticas para o desenvolvimento do setor cinematográfico nos países que constituem o Bloco do Mercosul. Diante da difusão cultural das diversas cinematografias do Brasil, o festival se consagrou como um dos mais importantes acontecimentos audiovisuais do sul do país. “Esse evento maravilhoso é uma grande oportunidade que reúne uma diversidade de público, uma diversidade de linguagens de estéticas e ainda é gratuito, diz a cineasta Maria Emília, que estreia o segundo filme no FAM (o primeiro foi Um tiro na água, em 2005).

O festival tem sido uma grande porta na descentralização, democratização e difusão de cultura, principalmente pelo espaço que tem proporcionado as obras cinematográficas catarinenses, é o que explica o roteirista Marcelo Esteves. “É importante ter um espaço que preserva e garante que a produção vai chegar lá. Quando colocamos os nossos filmes junto com outros filmes o espaço para exibição dos nossos são menores. A concorrência é muito maior.”

O FAM é um espaço para a quebra de barreiras mercadológicas, ressalta Maria Emília. “O problema do cinema nacional e o catarinense é a questão da distribuição e exibição. Nós produtores e realizadores ficamos reféns dessa distribuição, sem saber se o público vai gostar ou não por que eles não assistem e isso já nos impede de ter esse contexto. Por isso o FAM nos proporciona um outro espaço mais direto com o público.

O curta Mulher Azul é uma adaptação de um diário feminino, roteirizado pelo cineasta e professor Marcelo Esteves, segundo quem a principal dificuldade na adaptação da narrativa não foi o texto ser completamente feminino, mas sim as situações estáticas que é a característica do relato diário. “A questão de ser feminino não foi o problema, problema é adaptar um diário que não tem ações. Na verdade, um diário é constituído de impressões da personagem e é desafiante ter que inventar todas aquelas ações para sustentar o texto dele que é onde está o lirismo. Um pouco trabalhoso, mas interessante”.

Para o poeta, o gênero do trabalho dele se aproximou ao de Maria Emília, portanto, essa foi a peça chave para que a obra ficasse em completa harmonia “Ela faz um filme fora do convencional, no caso do Mulher Azul, é uma obra mais poética. O próprio tipo de cinema que Maria Emília faz se aproxima do tipo de texto que eu faço. O que combinou muito, além da beleza do filme, foi uma equipe feliz e bem entrosada. Gostei muito do filme”, afirma.

A narrativa começa quando M. se isola em uma casa à beira da água, deixando para trás a cidade grande com seus movimentos e sobressaltos, tentando parar o tempo de sua própria narrativa. Isolada, ela espera se aproximar das respostas que tanto procura. Não demora muito para que perceba que essa porção de tempo retirada do fluxo das horas apresenta suas próprias pulsões e movimentos internos.

Por trás do lirismo de “Mulher Azul” repousa a intenção de abordar a poética do tempo. O filme foi produzido na França, na cidade de Provence. “A frança me escolheu. Foi interessante que nós filmamos em quatro pessoas só, a equipe foi uma equipe de documentário”, alegra-se a diretora.


Entrevista:

com Maria Emilia diretora do Curta Mulher Azul

Fato & Versão: Sabemos que a sua inspiração para produzir o curta foi o Texto de Renato Tapado, mas o que te encantou no texto dele?

Maria Emília: A profundidade na essência feminina, isso me encantou e me chamou muito atenção, afinal de contas, é um homem escrevendo, mas separando essa questão do gênero. Exatamente essa profundidade em que a gente, como mulher, vai entrando. Sempre tem alguma coisa que mexe muito com a gente.

Fato & Versão: E por que escolheu a França?

Maria Emília: A frança me escolheu. Originalmente a narrativa indicava Brasil e Buenos Aires para cenas em câmera subjetiva dos cafés à noite. Esse tratamento era mais um retorno da personagem M. que, morava na Argentina e retornava ao Brasil para se isolar e questionar seu momento de vida. Com a possibilidade de rodar na Provence, a narrativa foi alterada.

Fato & Versão: Como ficou a questão de recursos financeiros para a produção do Curta?

Maria Emília: foi interessante que nós filmamos em quatro pessoas só, uma equipe de documentário. A produção foi pequena e estávamos em uma equipe masculina.

Fato & Versão: E Por que lançar no FAM?

Maria Emília: Por que o FAM é esse evento maravilhoso que vocês estão vendo, que reúne uma diversidade de público e é de graça e tá tudo aqui, entende? Então é uma grande oportunidade. Já é o segundo filme que eu estreio no FAM. O primeiro foi Um tiro na água, em 2005.

Fato & Versão: E o Filme A antropóloga?

Maria Emília: O A antropóloga foi a minha primeira produção executiva. Foi uma estréia muito gratificante que permaneceu semanas em cartaz no Iguatemi. Foi a primeira vez que um filme nosso aqui entra em cartaz e gerou um fato histórico. A narrativa resgata uma cultura antropologicamente, não fica na superfície. O Zeca com muita propriedade e com muito talento resgata Franklin Cascaes, incluindo-o na trama sem torná-lo uma coisa alegórica. Ele resgata o mito do Franklin configurado dentro de uma narrativa de uma essência em que nada aparece gratuitamente.

Fato & Versão: E qual é o cenário catarinense para as obras cinematográficas?

Maria Emília: O problema do cinema nacional e catarinense é a questão da distribuição e exibição e nós produtores e realizadores ficamos refém dessa distribuição. A gente não sabe se o público vai gostar ou não por que eles não assistem e isso já nos impede de ter esse contexto. Por isso que o FAM é muito importante, exatamente para quebrar essa barreira mercadológica.

Os acadêmicos da 5ª fase do curso de Jornalismo da Unisul - disciplina Produção em Impressos - sob a supervisão da professora Raquel Wandelli, estão fazendo a cobertura do FAM como atividade curricular do semestre.

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