quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sobre

por Raquel Wandelli, coordenadora geral


O Projeto Jornal-laboratório Fato & Versão da Unisul, criado em 1997, tem como objetivo preparar os alunos para a prática profissional, mas na perspectiva de ir além dela, de superá-la, transformá-lo e inová-la. Prepara para o exercício profissional sem se submeter aos condicionamentos do mercado, buscando transformar as práticas e formatos já esgotados. Busca-se assim, escapar ao movimento paradoxal do mercado, que se esgota velozmente em seus próprios ciclos, necessitando ser contradito e inovado, ao mesmo tempo em que tende a subjugar os profissionais às antigas prescrições.

É função da prática laboratorial legitimar o exercício de formatos transformadores no campo gráfico e editorial, incentivando a experimentação e a criatividade. O estímulo a vivências jornalísticas reais torna a prática laboratorial mais verdadeira e pedagógica. Provocar o movimento de corpo da equipe ao encontro dos cenários e atores sociais que dão vida aos textos jornalísticos também é uma forma de contrapor-se à tendência preguiçosa de reproduzir informações sem sair da redação.

O jornal-laboratório é espaço privilegiado para a reflexão crítica sobre a realidade, para a expressão estilística e política. Em recusa à falsa neutralidade e imparcialidade, o projeto fortalece o exercício da análise, da interpretação e do posicionamento político sobre a realidade, obtido da soma e confronto de vozes plurais. A busca do posicionamento assumido não significa, contudo, fazer do jornal instrumento de posturas dogmáticas e ideologizadas.

Dentro de uma prática pedagógica transformadora, o projeto deve ser potencializado como um laboratório de transformação dos discursos jornalísticos. Propõem-se a busca da humanização da narrativa e a valorização das histórias de vida dos protagonistas sociais (contumazmente tomados como exemplos reificados de generalizações), recusando-se o apego à referência hegemônica das fontes oficiais. Buscando ir além das fórmulas jornalísticas já desgastadas, conhecidas por reduzir a reportagem a uma pirâmide invertida, estimulam-se propostas estéticas alternativas de texto.

Essas alternativas contradizem o esvaziamento do conteúdo nos primeiro parágrafos e retomam a arte da narrativa, cujo princípio comum é o encantamento do leitor da primeira à última linha. Propõem-se formas de abordagem pesquisadas, que ponham em questão a redução das problemáticas sociais a um empilhamento de números comentados, em favor de relatos mais humanizados e sustentados no encadeamento de dados, observações, opiniões e análises que respeitem a complexidade do cenário humano.

Enquanto instrumento acadêmico de exercício profissional e crescimento intelectual, o j-lab não se confunde, em nenhuma hipótese, com a função dos jornais institucionais (house-organs), cujo objetivo é promover a imagem das organizações que os mantêm. Essa distinção deve nortear seriamente a definição de pautas e coberturas jornalísticas.

Dentro da filosofia do Curso de Jornalismo da Unisul, que valoriza a integração coletiva de diferentes competências e tarefas, o jornal-laboratório resgata o aspecto coletivo essencial à produção de um jornal, superando a fragmentação, a formação de guetos por setores, a individualização e a competitividade que caracterizam em grande parte as empresas jornalísticas. Além de propiciar a compreensão de todas as etapas do trabalho de colocar um jornal nas ruas, o jornal-laboratório situa o processo de produção jornalística na articulação de várias áreas do conhecimento, formas de linguagem e tecnologias de comunicação. Insere-se assim no conceito de hipermídia que permeia o Projeto Sistêmico, em direção a um processo de ensino-aprendizagem hipertextual da comunicação. Operando de forma integrada a outras mídias, busca dar ao aluno condições de vislumbrar a atual sinergia ente tecnologias e veículos que até pouco operavam de forma isolada e compartimentada.

Dado o espaço de educação onde está inserido, o jornal-laboratório prioriza o processo de ensino-aprendizagem, de modo que o conjunto de alunos possa se rever no produto editorial da instituição que participam. Além das tarefas específicas e individuais, deve estabelecer mecanismos de auto-reflexão crítica e socialização das atividades entre todos, a fim de promover a multiplicação do conhecimento efetivo do processo.
Concebido dessa forma, o jornal-laboratório escapa de ser vitrine de projetos individuais de jornalistas-professores e alunos. Tampouco se reduz à produção de uma publicação-espelho de egos-autores encerrados em sua própria individualidade. Bem pelo contrário, sustenta-se no projeto pedagógico do Curso de Comunicação Social da Unisul e na prática dos conceitos de jornalismo que lhe dão sentido e integração. Atualmente o jornal é desenvolvido pelos alunos da disciplina de Projeto Mídia Impressa.

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