quinta-feira, 17 de junho de 2010

Distribuição e expansão das salas de cinema são debatidas no 14º FAM

Por Laís Campos Moser




“O cinema de bairro se perdeu”. A fala de Adhemar de Oliveira, da distribuidora Mais Filmes e do Espaço Unibanco de Cinema, sintetiza o processo que há tempo vem acontecendo no mercado cinematográfico brasileiro. Hoje no Brasil as salas de cinema encontram-se situadas majoritariamente nos shoppings, voltadas principalmente à exibição de filmes “blockbusters”. Esse foi um dos principais assuntos debatidos no Seminário de Cinema e Televisão do Mercosul ocorrido nesta quarta no FAM 2010. Com o tema “O nó da distribuição e expansão das salas”, estiveram à frente do debate o cineasta Gustavo Dahl, atual diretor do Centro Técnico do Audiovisual (CTAV), ligado ao Ministério da Cultura; o argentino Andrés Portela, da IFA Cinematografia; a também portenha Elena Suñe, da Federação Argentina de Exibidores Cinematográficos (FADEC) e Adhemar de Oliveira. O seminário foi coordenado pelo professor do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), João Massarolo.

Nos anos 70 existiam 3.500 salas de cinema no Brasil; atualmente, as mesmas foram reduzidas a 2.100. Além de a quantidade ter diminuído, outro fenômeno passou a caracterizar o cinema brasileiro: salas de cinema estão cada vez mais difíceis de serem encontradas fora dos grandes shoppings urbanos. “O universo das salas de cinema é o universo da concentração de renda”, afirmou Adhemar de Oliveira, dono de salas de exibição Arteplex, nas quais tem a iniciativa de exibir filmes de arte além dos Hollywoodianos. Em São Paulo, por exemplo, cidade com o maior número de salas no país, diversas regiões estão à margem da exibição cinematográfica. “Quando você tem que andar duas horas para ver uma hora e meia de filme e duas horas para voltar para casa, tem que tem muita vontade”, reiterou Adhemar sobre esse processo de espacialização e elitização das salas de cinema. “Esse aspecto de cinema de bairro, perto de casa, se perdeu”, complementou. Para Elena Suñé, da exibidora Cinemacenter, que abre grande espaço para filmes independentes, o mesmo aconteceu na Argentina: “o governo se deu conta de que as salas de bairros não existiam mais”.

A atuação das emissoras de televisão também é outro empecilho para a cultura cinematográfica brasileira, de acordo com Adhemar de Oliveira: “Na França não pode passar filme aos sábados, é uma preservação às salas de cinema. Aqui não temos regras, e a presença da dramaturgia própria da televisão é um competidor”, salientou.

Para Gustavo Dahl o “nó” não está na distribuição, mas sim na exibição: “uma sala de exibição é tão importante quando uma praça, não é a toa que antigamente cinemas, sobretudo do interior, ficavam na praça”, ponderou. Para o cineasta, as pessoas sentem a necessidade de se reunirem, de estarem juntas umas com as outras, e o cinema proporciona isso. “Ir ao cinema é qualidade de vida, é estar junto”, destacou. Contudo Dahl aposta na tese de que o hábito social da população modifica a economia cinematográfica, sendo que a tecnologia tem afastado de certo modo o hábito de ir ao cinema: “preferimos ver o youtube a ir ao cinema. Quem sabe depois que se esgotar a febre tecnológica, voltar-se-á necessidade de congregar-se”, sentenciou.

A pirataria também foi debatida no seminário, e Elena Suñé salientou que a mesma deve ser combatida porque é uma prática que prejudica a todas as pessoas legalmente envolvidas no meio cinematográfico, desde atores, diretores, produtores, até distribuidores e exibidores.

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